Deserto

Todo profissional possui seus valores, seus méritos, suas conquistas. Enfrenta também adversidades. Depara-se com desafios, tantas vezes cruéis, na luta por preservação de espaços e conceitos.

Amanhã, 27 de agosto, é o Dia do Psicólogo. Por isso o título "Deserto". Creio tratar-se da profissão mais solitária que conheço.

É o que convive com universos sigilosos. É o detentor de segredos. É o precursor da ética.

Relaciona-se com tantos eus e é sempre, em essência, alguém sozinho. Precisa articular muito para que conteúdos sejam arquivados, pessoas salvaguardadas, momentos protegidos. E o faz por convicção, por instinto, por acreditar no ser humano e suas potencialidades.

É como o deserto. Cheio de mistérios por entre areia infinita. Mas ali existem tesouros, basta que se atente ao todo. Se o sobrevoarmos, parece igual. Se nele andarmos, idem. Porém, se como guias montados em camelos e com as provisões necessárias nos aventurarmos, saberemos como chegar de um oásis a outro, encontrando vida em meio à aridez.

Somos os cirurgiões do comportamento. Das emoções. Do afeto. Do inconsciente. Dos sonhos. Dos pesadelos. Da mente. Da inteligência. Do cérebro. Somos os desbravadores das áreas não concretas, mas de um fascinante abstracionismo.

A cumplicidade que se instala entre o psicólogo e o seu cliente, no processo psicoterápico, é de confiança máxima, com relatos falando de particularidades e intimidades.

Trabalhar com pessoas, pessoas que geralmente nos trazem a carga de problemas e negatividade de suas histórias, trata-se de opção de vida.

A dinâmica do compreender impera. Tudo passa pela aceitação, paciência, entendimento e encontrar maneiras muitas de participar do mundo do outro, com suas matizes, algumas delas, tão sutis.

Neutralidade e não indução de valores servem como bússola, nos dando o norte da ação eficaz.

Receber o produto como é e auxiliá-lo a tornar-se melhor, nos cabe como missão.

Porém, nunca se pode perder de vista dois elementos indispensáveis para tão delicada construção de pessoas.

De um lado o amor, que dá sentido a todas as coisas, e de outro Deus, definição mais completa do próprio amor.

Parabéns a todos aqueles que, de alguma forma, transitam pelo campo da inquietante ciência denominada psicologia.