Carioca criada em Joinville, morando algum tempo em São Bento do Sul e Florianópolis.
Sou vegetariana desde os dezessete anos e recentemente me mudei para a terra do churrasco (Pelotas - RS), onde faço graduação em biotecnologia. Gosto de arte, cultura geral, animais domésticos, psiclogia, história e filosofia. Gosto de algumas pessoas também. Aprecio culinária japonesa... mas tem que ser sem carne. Gosto de escrever, desenhar, conversar, tocar violão, perder tempo na internet e dormir.
Ação aparentemente banal: encher um carrinho de supermercado. A forma moderna de caçar e coletar, sem a necessidade de sujar as mãos de sangue. Mas a embalagem esconde, além do conteúdo, os processos de produção: são produtos testados em animais. Excluindo-se os da área médica, que em muitos casos precisam ser testados em animais, é questionar os cosméticos, produtos de limpeza e outros itens de supermercado, que muitas vezes testados em animais sem necessidade.
Há empresas que não realizam testes em animais, sem que seus objetos de produção e venda tenham qualidade inferior. No caso dos cosméticos, podem ser citadas as empresas Nivea, O Boticário, Natura, Nazca, Davene, Ox, Contém 1g, L'aqua di Fiori, Impala, Niasi, Embelleze, Revlon, Avon, Victoria Secrets e outras. Há alguns fabricantes de produtos de limpeza, como Ypê, e de acessórios de higiene oral, como Condor, também não testam seus produtos em animais.
Por que a preocupação? Testes em animais são bastante agressivos, pois tem como objetivo avaliar a sensibilidade à exposição a determinadas substâncias, aplicadas em qualquer parte do corpo (olhos e pele, principalmente, no caso dos cosméticos e produtos de limpeza). Imagens dos testes são realmente impressionantes e deprimentes. Então, para chamar atenção para o problema, vou usar apenas "a vida secreta das palavras".
Vamos começar pelo teste de irritação ocular (draize eye test), realizado principalmente em coelhos, pois são animais baratos e dóceis (de fácil manejo). Os animais, conscientes, recebem aplicação dos produtos em seus olhos. Os testes podem durar de 72 horas a dezoito dias. Talvez nem precise dizer, mas os animais sentem dores extremas. Os efeitos nos olhos vão de úlceras à cegueira. Os coelhos são sacrificados (não, nesse caso não vou empregar a palavra "eutanasiados", pois é sim um sacrifício) para que sejam avaliados outros efeitos em seu corpo.
Há também a avaliação de irritação dermatológica, na qual o pelo do animal é removido (tosado) e sua pele é exposta. Comumente, usa-se fita adesiva, aderia à pele e arrancada posteriormente, diversas vezes, até que a pele do animal esteja em carne viva. Observam-se efeitos de ulcerações, descamações e outros.
Somando-se aos supracitados, há o teste LD 50, que avalia a dose letal de algumas substâncias. Produtos, como amaciantes, são introduzidas nos animais por meio de uma sonda gástrica, a qual pode causar morte por perfuração. Além de cabras, podem ser usados coelhos, ratos, macacos e gatos. A prática consiste em encontrar a dose responsável pela morte de metade dos animais avaliados. Ao fim do experimento, os animais sobreviventes são mortos.
Existem também experimentos de comportamento, armamentos, programas espaciais, colisões e os da área médica e odontológica. Em alguns casos, são feitas avaliações de substâncias não mais "potencialmente tóxicas", mas cujos efeitos já são conhecidos. Busca-se apenas encontrar a quantidade a ser disponibilizada ao consumidor, sem matá-lo (aliás, matá-lo sim, mas progressivamente): Há testes referentes à ingestão de álcool e tabaco. Cobaias são forçadas à embriaguez e inalação de fumaça de cigarro (em procedimentos separados, mas nem por isso menos cruéis ou desnecessários).
A vida é feita de escolhas, não só a sua, mas também a de outras pessoas e animais. Os rótulos e embalagens nem sempre têm todas as informações que desejamos. No caso dos testes, é preciso buscar em outras fontes. Apesar do "empenho", pode ser interessante ter a consciência mais tranqüila, deixando de financiar o sofrimento. O bem-estar oferecido aos animais poupados pode chegar também ao consumidor.