Carioca criada em Joinville, morando algum tempo em São Bento do Sul e Florianópolis.
Sou vegetariana desde os dezessete anos e recentemente me mudei para a terra do churrasco (Pelotas - RS), onde faço graduação em biotecnologia. Gosto de arte, cultura geral, animais domésticos, psiclogia, história e filosofia. Gosto de algumas pessoas também. Aprecio culinária japonesa... mas tem que ser sem carne. Gosto de escrever, desenhar, conversar, tocar violão, perder tempo na internet e dormir.
Três de dezembro é o dia internacional da pessoa com deficiência. É curioso imaginar o mundo sob a perspectiva de alguém que não enxerga ou não ouve como nós. Que percebe o mundo através do tato, ou que fica posicionado a uma altura menor, por estar em uma cadeira de rodas. Diria que é desafiador entender plenamente como se sentem, pois são situações que a maioria de nós não experimentou anteriormente, portanto não sabemos como realmente é. Não imaginamos o que é atravessar uma rua sem poder confiar em nossos olhos para perceber o movimento dos carros, ou precisar ser carregado para subir escadas (pela falta de rampas e elevadores) por usarmos cadeiras de rodas.
A arte nos convida a pensar sobre alguns aspectos. O biográfico Ray retrata a vida do músico Ray Charles, incluindo a progressão de sua cegueira e o enfrentamento de preconceitos. O filme nacional Hoje eu quero voltar sozinho é baseado nas descobertas relacionadas à sexualidade de um adolescente cego (assim como o curta metragem Não quero voltar sozinho, que surgiu anteriormente). O documentário Janela da Alma traz conversas sobre a visão e percepções associadas.
Podemos aprender um pouco mais sobre o assunto ao ouvir (ou ler) depoimentos de quem convive diariamente com situações assim. O blog Sem Acesso, de Larissa Marcantoni Corrêa, aborda de forma bem humorada questões como acessibilidade. O humor também está presente nos quadrinhos Super Normais e no vlog da Mini, que inclui depoimentos sobre dores fantasmas e aceitação. Há também o site deficientefisico.com e o blog deficienteciente.com.br, que contêm informações e notícias sobre o tema.
A coluna Longe do alcance das mãos, de Tory Oliveira, expôs a dificuldade de se conseguir livros em Braille. A assistência às crianças deficientes já foi tema de uma reportagem em uma famosa “revista eletrônica semanal”, exibida aos domingos. A reportagem indiretamente mostrou o quanto a situação financeira acabe sendo determinante para que as famílias consigam uma assistência melhor: para os que não podem pagar, nem sempre há acesso à terapia ocupacional, fonoaudióloga e monitores para que as crianças possam freqüentar a escola. Outro programa da mesma emissora, que mostra a produção de reportagens por jovens jornalistas, também expôs as dificuldades enfrentadas pelos cuidadores, quanto à acessibilidade e inclusão.
O grupo de Istambul Engelleri Kaldir Hareketi, cujo nome pode ser traduzido como “movimento de remoção de barreiras”, lançou um vídeo para conscientização quanto à acessibilidade. O vídeo inverte a situação da “minoria”, mostrando uma sociedade onde a maioria dos indivíduos é portadora de deficiência física (e as exceções precisam se adaptar). Portanto, nos leva à conclusão de que a sociedade é adaptada somente à “maioria” e ignora as necessidades dos grupos com um número menor de representantes. Assim como expõe o filme Ensaio sobre a cegueira, se a maioria da população perdesse a visão de forma súbita, sofreria pela nossa “cultura excessivamente visual” e a falta de planejamento direcionado àqueles que (literalmente) não compartilham de nossa visão.
Vale lembrar que, às vezes, apesar da acessibilidade oferecida, há transgressão por parte dos que não têm necessidades especiais: vagas para deficientes nos estacionamentos são constantemente ocupadas por quem não deveria usá-las, o atendimento preferencial é prejudicado pelo desrespeito às filas, assentos reservados são preenchidos indevidamente no transporte público. Deficiência moral.
Há aspectos além da acessibilidade e da inclusão que precisam ser considerados. Em um programa televisivo voltado à descoberta de talentos vocais, um dos episódios mostrou um candidato cego sendo aprovado. A primeira observação feita pelos jurados, ao virarem suas poltronas e verem o candidato, foi justamente sobre sua deficiência visual. É claro que ele foi muito elogiado por suas qualidades artísticas, mas tive a impressão de que ele se sentiu ligeiramente desconfortável ao ouvir o primeiro comentário. Será que gostaríamos de ser lembrados primeiro por nossas limitações e só depois por nossas potencialidades? Creio que não. Então por que não valorizar (e comentar) mais as outras particularidades da pessoa, principalmente em um primeiro contato?
Empatia, respeito e equidade: razões para que possamos valorizar e exigir mais acessibilidade, inclusão e um tratamento mais parecido com aquele que preferimos receber. Desconstruindo o que disse o presidenciável de bigode, somos maioria, mas não vamos enfrentar a minoria: Vamos nos unir a ela, aprender com suas vivências, promover as adequações necessárias e construir uma sociedade mais justa.