Carioca criada em Joinville, morando algum tempo em São Bento do Sul e Florianópolis.
Sou vegetariana desde os dezessete anos e recentemente me mudei para a terra do churrasco (Pelotas - RS), onde faço graduação em biotecnologia. Gosto de arte, cultura geral, animais domésticos, psiclogia, história e filosofia. Gosto de algumas pessoas também. Aprecio culinária japonesa... mas tem que ser sem carne. Gosto de escrever, desenhar, conversar, tocar violão, perder tempo na internet e dormir.
Mais uma vez, um grande evento futebolístico é o cenário para que o patriotismo brasileiro seja manifestado. Mas agora, por outra razão: a consciência de que há várias disputas a serem vencidas fora dos gramados. A torcida, organizada, levantou-se das arquibancadas, sofás e cadeiras em frente aos televisores e computadores. O Brasil parece preparado para começar a construir a maior de suas vitórias.
Pinturas no rosto e “o lábaro que ostentas estrelado”, levados pelos transeuntes, agora estão preenchidos com ideais de ordem e progresso: os avanços que os candidatos definem como “prioridades” durante o período eleitoral, mas que visivelmente não o são quando os mesmos candidatos conseguem se eleger. “Quem tem boca, vaia Roma” e o “brado retumbante” foi dirigido (pelos mesmos torcedores que apoiaram financeiramente o evento, pagando um dos caríssimos ingressos para assisti-lo) à autoridade máxima da República. As migalhas de um pão da melhor qualidade já não satisfazem. Talvez o circo esteja falido.
Houve o grito de independência de uma mídia manipuladora e nem sempre comprometida com a versão dos fatos que interessa ao povo. A internet e as redes sociais disseminaram vídeos, depoimentos e fotos. Estes, contendo estatísticas de investimentos governamentais em áreas como saúde e educação e sua desproporção em relação aos gastos com a Copa, lucros de empresas do setor de transportes e registros audiovisuais da ação violenta da polícia – não só contra os manifestantes, mas também contra jornalistas que cobriam os protestos – além da detenção de um jornalista que portava vinagre, substância capaz de atenuar efeitos do gás lacrimogêneo.
“Mas se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta.” A ação da polícia não foi capaz de conter os ânimos da torcida, sedenta por melhorias no desempenho de sua seleção de governantes. Passeatas alastram-se por cidades brasileiras, mostrando que a indignação e a coragem de sair às ruas não morreram com a juventude que viveu a ditadura militar. Homens armados, “amados ou não”, teriam muito a ganhar com as melhorias solicitadas pelos membros da passeata. Mas muitos deles, “ao morrer pela pátria e viver sem razão”, simplesmente cumprem o que lhes foi determinado e se opõem à luta pelos próprios direitos.
No passado, foram obtidos direitos como educação gratuita e (teoricamente) liberdade de expressão. Diante do atual descaso quanto a essas e outras necessidades, podemos perder o que “conseguimos conquistar com braço forte”.
Deitado em berço esplêndido, mas não eternamente, o brasileiro começa a despertar de um sonho intenso. Entra em campo para façanhas olímpicas, apesar do poder dos adversários. O amor e esperança à terra descem.