Carioca criada em Joinville, morando algum tempo em São Bento do Sul e Florianópolis.
Sou vegetariana desde os dezessete anos e recentemente me mudei para a terra do churrasco (Pelotas - RS), onde faço graduação em biotecnologia. Gosto de arte, cultura geral, animais domésticos, psiclogia, história e filosofia. Gosto de algumas pessoas também. Aprecio culinária japonesa... mas tem que ser sem carne. Gosto de escrever, desenhar, conversar, tocar violão, perder tempo na internet e dormir.
Esta semana, além do dia dos namorados, haverá (para mim) uma prova de anatomia que, entre outros assuntos, inclui o coração. Nada mais justo que escrever sobre o amor.
O amor fez um casal e criou você. Deixou inquietos poetas e músicos, inspirando-os a compor um legado para as gerações seguintes. É tão presente no cinema que ocupa uma parte das videolocadoras só para si, indicada pelo nome “romance”. É o suficiente para unir pessoas muito diferentes e ser a característica comum entre trabalhos de artistas tão distintos quanto Paul McCartney e Reginaldo Rossi.
The Beatles, possivelmente a primeira boy band de sucesso no mundo, teve como tema muito frequente em suas músicas o amor. Talvez a paixão das fãs, na “Beatlemania”, tenha impulsionado razoavelmente as conquistas da banda e os músicos tenham percebido, naquele momento, que paixão e amor são temas com grande aceitação do público e predisposição ao sucesso. Atingem não só casais, mas também os apaixonados não correspondidos. Pode ser prometido, afirmado ou questionado, como na canção “Something”, em que o protagonista não sabe dizer se seu amor pela garota crescerá.
O assunto foi incorporado nos mais diversos gêneros, como samba, MPB, e rock. Foi também “atualizado” em sua abordagem: se anteriormente músicas como “I wanna hold your hand” (“eu quero segurar sua mão”) expressavam a vontade do público, hoje funk nacional, hip hop, pagode e outros estilos são mais explícitos quanto às sensações despertadas e o comportamento decorrente.
O “fogo que arde sem se ver”, de Renato Russo, tem ampla participação na sétima arte, sendo podado como em Romeu & Julieta e Noiva Cadáver, vivido e trazendo conseqüências indesejadas (como no filme Juno) ou comemorado ao fim do enredo (como em... melhor não dizer, para não contar o final). É também demonstrado em suas formas fraterna, paterna e materna, tal qual na comédia “A Pequena Miss Sunshine” e na produção “Simplesmente Amor”. O amor próprio é o tema central no francês “O Closet”. Amizade, outra vertente do amor, é constantemente celebrada em filmes sobre adolescência (como o brasileiro “As Melhores Coisas do Mundo”) e voltados ao público infantil ( “O Cão e a Raposa” e outros, além de filmes sobre a amizade entre humanos e animais).
O cinema também retrata relações polêmicas: o viesamento (perda da capacidade de análise comportamental do companheiro) é expresso no filme que no Brasil foi denominado “O Amor Custa Caro”. Além dele, relacionamentos homossexuais, de pessoas com grande diferença de idade ou pertencentes a distantes classes sociais são demonstrados. Por ter maior tempo que a música, por exemplo, para expor a situação, o cinema é capaz de apresentar os pontos de vista dos personagens e trazer maior empatia a quem acompanha a obra. É, portanto, mais livre e passível de aceitação.
Da mesma liberdade usufrui a literatura, provavelmente pela mesma razão: o tempo de “contato” com o público. O trágico “Os sofrimentos do jovem Werther” trouxe drama à vida real, causando suicídios em massa. “O Mulato” descreveu um relacionamento inter racial, num período em que era tabu. Ciúmes e adultério compõem “O Primo Basílio” e “Dom Casmurro”, também num período bastante conservador. A poetisa Safo, da ilha de Lesbos (Grécia) escrevia sobre e para mulheres (posteriormente o termo “lésbica” surgiu da associação entre o conteúdo das poesias e o nome da ilha).
Se a vida imita a arte, as manifestações de amor na sociedade vêm ganhando mais liberdade. A geração atual “fica”, eliminando o compromisso imposto pelo namoro. As pessoas podem optar também por “amizade colorida” ou “relacionamento aberto”.
Recentemente, no Rio Grande do Sul, um casamento realizado entre um britânico e um brasileiro foi reconhecido por um juiz da Comarca de Lajeado. Semanas antes, a Comissão de Direitos Humanos do Senado aprovou um projeto de lei que inclui a união estável entre homossexuais no Código Civil. Vale lembrar que casamentos entre pessoas de diferentes etnias, classes sociais ou religiões já foram menos tolerados na sociedade e hoje são relativamente comuns. Práticas como o casamento infantil e a pedofilia (potenciais inibidoras do surgimento do amor espontâneo, posteriormente) vêm sendo condenadas pela opinião pública.
Creio que haja uma tendência ao desaparecimento de empecilhos legais ou judiciais às relações amorosas. A timidez e a insegurança ainda limitam a aproximação entre duas pessoas de interesses convergentes. Talvez um dia sejam lenda – assim como os rituais de pedir em namoro, levar ao cinema, conhecer a família do namorado ou da namorada ou trocar presentes no dia dos namorados – e nos pareçam tão antigas quanto o rock n’ roll inocente (e inigualável) dos Beatles.