Dr. José Kormann (Histórias da História)
Historiador
Ficou muito conhecida a sua capacidade de apertar com força a mão de quem o cumprimenta. Certo dia ele estava parado em frente a sua fabriqueta, sorridente e alegre como sempre, saudando as pessoas que por ali passavam. Um gaiato atrevido gritou para ele: "Oh, velhinho! Ainda não morreu?". E o seu Sprotte imediatamente retrucou: "Vem cá amigo, dê a mão a quem já quase está com os pés na sepultura!". E o infeliz foi e deu-lhe a mão, mas seu Sprotte, com um simples aperto de mão o fez ajoelhar-se e gritar de dor. Esses abertos são feitos de tal maneira que doem muito, mas não deixam nenhuma sequela.
Herbert Sprotte nasceu na Estrada da Serra a 2 de dezembro de 1931, filho de Gustavo Sprotte e de Bertha Franz Sprotte. Frequentou a escola de Bela Aliança e, até os 23 anos de idade, trabalhou na lavoura sob sol e chuva com seus pais. Ele e seu irmão Herhardt trabalhavam muito pelas vizinhanças. Fazia de tudo: limpar os ervais de mate, colher e sapecar erva-mate, lavouras de todos os tipos, trabalhava no amanho de lenha em metro, toras, malhar trigo e centeio com escambau (instrumento apropriado para debulhar cereais) em ritmadas batidas compassadas de dois, de três ou mais elementos; longas caminhadas a pé. Nada os detinha, nem mesmo muitas interessantes e inocentes malandragens das quais os colonos nunca reclamavam por serem excelentes trabalhadores que todos gostavam de ter em suas lavouras.
Das inocentes malandragens há muitas. Daria, talvez, um livro completo. Assim, certo dia, ele e seu irmão foram trabalhar na casa de um colono que tinha um doce muito gostoso para passar no pão. Isso não era tão comum na dura vida dos primeiros colonos. Os irmãos Sprotte aproveitaram para comer bem dessa gostosura, e passavam esse unguento dos dois lados da fatia de pão. O colono para o qual trabalhavam perguntou o porquê disso e eles responderam que o lábio inferior merece o mesmo tanto quanto o lábio superior. E assim tantas outras, como também se fazerem de fantasma para assustar quem passasse, de noite, pelas picadas do sertão ou pelas estradas nada iluminadas daquele tempo. E isso principalmente a quem gostava de se apresentar como bom valentão.
Em 1954, Herbert Sprotte largou a vida de agricultor e registrou-se como operário na Condor e de lá foi trabalhar na fábrica de Móveis Roepke, hoje Produmex. Depois trabalhou por alguns anos no Moinho Weiss. Para finalmente ele e seus filhos constituírem a Fábrica de Móveis Sprotte.
Herbert Sprotte casou com Elfrida Schroeder Sprotte. Viveram juntos por 43 anos. Fato triste, mas curioso, que o casal com seus filhos Aroldo, Helmuth e Ilse festejaram o aniversário de casamento e já dia seguinte foi o velório da mãe. Mas hoje, seu Sprotte vive feliz com seus filhos, 4 netos e 5 netas, 2 bisnetos e 3 bisnetas; apesar da delicada intervenção cirúrgica pela qual passou 5 de setembro de 1996. Foi uma operação realmente complicada com uma intervenção na próstata e a completa perda do intestino grosso. Hoje é um ostomizado.
Herbert Sprotte sofreu muito, trabalhou muito e muitas vezes pesadamente, mas foi e é sempre alegre, bem disposto e continua tendo um aperto de mão firme. Dizem até que São Pedro ainda não o quis lá no céu para que ele aprendesse a não judiar, dessa forma, as pessoas aqui na Terra. Se bem que mereça o Céu pelo bem que aqui já fez, pela alegria que irradia, pela bondade em sempre ajudar os outros que tem demonstrado ao longo de sua história.
Sempre foi sócio da Sängerhalle, a Sociedade de Cantores 25 de Julho, na popular Estrada da Serra, a velha e histórica Estrada Dona Francisca. É membro fundador da Igreja Luterana de Oxford, vice presidente dos ostomizados de Joinville e presidente de Honra da mesma entidade. Durante a pesada intervenção cirúrgica recebeu muitas orações de seus amigos e conhecidos. Herbert Sprotte é a História viva de São Bento do Sul, que, para exemplo de todos, merece ser lembrado para sempre nos anais da comunidade.