Dr. José Kormann (Histórias da História)
Historiador
Atendendo sugestão do jornalista Elvis Lozeiko, conversamos com Ana Elsa Schlagenhaufer para incluí-la no rol dos que compõem, segundo nossos critérios, aqueles que têm facetas de vida que bem merecem ser mais conhecidos como cofautores da nossa sociedade. E percebemos que Elvis tem toda razão: ela merece constar nessa lista de pessoas que são Prata da Casa.
Ana é neta de Rudolfo Schlagenhaufer, que foi fiscal da prefeitura de São Bento do Sul. Para cumprir sua tarefa ele percorria, a pé, todos os recantos do município. Às vezes até mesmo desaforos e ingratidões teve que enfrentar para bem se desincumbir de sua missão nem sempre grata aos munícipes de uma administração que apenas ainda se implantava. Rudolfo era imigrante austríaco, dos bem primeiros a chegar a São Bento do Sul. Foi ele quem construiu em 1896 a célebre casa dos Schlagenhaufer, hoje tombada pelo patrimônio histórico nacional.
Seu pai era Adolfo Schlagenhaufer e sua mãe chama-se Luíza - e era da Família Rudnick. Ela, a Ana Elsa, passou sua vida profissional sendo empregada doméstica. Primeiro ela trabalhou como doméstica na casa de uma Frau von Dürenshof e depois, por mais de trinta anos, trabalhou na casa de Ernesto Metzger, que comprou o estúdio fotográfico de um tal de Fredy.
No norte da Europa os Metzger eram donos de uma serraria, mas por dificuldades econômicas fecharam a serraria e o Ernesto veio ao Brasil. Primeiro trabalhou vários anos em serrarias de Porto União. Depois veio a São Bento do Sul e iniciou a Foto Metzger, que até hoje permanece com a família.
Ernesto e sua esposa não tiveram filhos, mas adotaram duas crianças: um menino, ao qual deram o nome de Gentil, e uma menina, Marta. Ana Elza, em casa dos Metzger, fazia todo serviço que cabia a uma dona de casa, pois a esposa de Ernesto trabalhava diretamente no estúdio fotográfico. Foi lá que Ana Elsa ficou sabendo tudo de São Bento do Sul e conhecendo quase todas as pessoas.
Os últimos dez anos de sua mãe ficaram por conta da filha Ana Elsa. Quantas coisas ela foi aprendendo com seus patrões, seus pais e principalmente com sua avó, que tanto gostava de contar histórias da emigração, da imigração, dos primeiros anos na salva, e Ana Elsa, que tanto gostava de ouvir o que sua vó contava. São verdadeiras lições de como se deve lutar na vida, sem jamais desanimar e mantendo sempre total a verdadeira verve vital.
Ana Elsa nunca casou. Sempre viveu para os outros, mas adotou um menino de oito anos chamado Silvério Adenildo dos Santos, que hoje mora em Campo Alegre. Entre tantas coisas bonitas, ela se lembra do cachorrinho dos Metzger que sempre bem cedo subia a escada e vinha acordá-la. Conta também do menino ao qual a mãe deu um prato com leite e pedaços de pão e depois foi ver por que ele tanto falava no jardim e era com uma gigantesca cobra à qual ele dava todo o leite. Pena que tão poucos escrevem e tão poucos leem.
Quando os Schlagenhaufer vieram ao Brasil, foi porque fechou a fábrica de louça onde trabalhavam na Alemanha. Desejavam, aqui, encontrar uma nova pátria, a Pátria da Esperança que tantos ansiosamente procuravam achar e que a Europa já não mais lhes podia garantir. Mas a decepção foi tão grande que só não voltaram porque já estavam sem dinheiro. O lugar mais próximo para fazer compras era Joinville, mas ir até lá, a pé, e trazer os produtos às costas por apenas uma lamacenta clareira aberta na verde mata onde mal e mal se podia passar, além de se estar sujeito às feras, às doenças e aos índios bravios. Mas hoje felizes e gratos podemos ver o resultado do fecundo trabalho de tantos pioneiros que deram sua vida na solidão das matas então ainda totalmente inóspitas. É o pioneiro herói imigrante qu,e ao tentar resolver seu problema, trouxe a solução eficaz para muitos.