Advogado
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil declarou esta semana que o retorno do Senador Delcídio Amaral ao Senado, mesmo em prisão domiciliar, é um deboche com o cidadão e um desrespeito com o parlamento. E é mesmo. Qualquer ser minimamente ético, se afastaria da função para elucidação de todas as dúvidas e acusações para voltar, se isento de responsabilidade, ao nobre cargo e superior atividade no Senado da República. Isto, porém, não tem o caráter escandaloso que deveria abalar o sentimento de cidadãos que acreditam nas afirmações de que as instituições brasileiras estão estáveis, mormente quando assistimos estarrecidos que outro acusado, junto com o presidente do Senado Renan Calheiros, o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, descaradamente abusa do cargo e do poder para manter-se inibindo o clamor público e de seus pares para que saia. Cunha afirmou numa arrogância impar, que a OAB é nada além de um cartel sem credibilidade. Entretanto, neste imbróglio, o que causa maior atenção é a provocação do ex-líder do PT no Senado, depois de 87 dias na cadeia, afirmar que, “se me cassarem, levo metade do Senado comigo”. Ambos, a Ordem e o Senado deveriam exigir retratações e censuras aos eminentes parlamentares. Ou será que a metade do Senado está a dever algo, como induz o colega preso.
INCOERÊNCIA DO PT
Todos lembram do Silvinho “Land Rover”. Era secretário-geral do partido dos trabalhadores. Em julho de 2005, nas investigações do mensalão, foi pressionado pelo partido a sair, ameaçado de expulsão por ter sido agraciado com o veículo. Na oportunidade Lula declarou ter sido traído por práticas inaceitáveis, tendo dito que para ele foi “uma facada nas costas”, o que não podia condizer com seus princípios e da agremiação que lidera. A “Land” representava na época algo em torno de R$ 74 mil reais. Interessante comparar a postura atual de Gilberto Carvalho (ex-Ministro-Chefe da Secretaria Geral da Presidência, indicado por Lula, Conselheiro de Dilma) em considerar que os presentes e gratificações que Lula recebeu “são a coisa mais natural do mundo”, de empresas contribuírem “com essa ou aquela pessoa”. Vale a comparação do valor dos presentes. A Land vale a metade do valor das cozinhas que Dona Marisa escolheu para o Tripléx do Guarujá e do sítio de Atibaia. Tem ainda a antena da Oi ao lado do sítio, no valor de R$ 1 milhão, a reforma da casa de campo custou à Odebrecht R$ 500 mil e o elevador exclusivo para o apartamento sem dono em Guarujá, que só foi visitado pela clã Lula, tendo custado R$ 700 mil. Embora Lula não saiba exatamente de quem é o sítio que o abriga nos finais de semana com sua mulher e amigos, para onde levou dezenas de caixas de bebida que trouxe de Brasília ao final de mandato (presentes certamente), custou a bagatela de R$ 1,5 milhão. Seria tão fácil dizer que pagou por tudo com a receita de sua alta competência nas milionárias palestras que ninguém viu ou assistiu. O PT não se incomoda com isso, do que dá para concluir que o Silvinho LR é que errou ao submeter-se as ameaças, e que se precipitou ao sair do partido.
AMEAÇA CONSISTENTE
Mais do que o processo de impedimento em tramitação no Congresso, virado em conflito primário entre a Câmara Federal e o Senado, tendo o STF exacerbando suas atribuições em interferências no legislativo, há sim, grave ameaça à Presidente. No caso de impeachment, aplica-se à presidente exclusivamente. No processo que já tramita no Tribunal Superior Eleitoral, avaliando a legitimidade dos custos de campanha da Presidente eleita, principalmente por inconsistências de informações e pela origem dos recursos, agora turbinados com as informações do marqueteiro da coligação eleita, há o elemento curioso de que se a cassação for deferida, e tem tudo para isso ocorrer, cairá a chapa eleita. A Presidente e o Vice, deixando a ver navios os oportunistas do PMDB em expectativa para assumir o governo federal. Cassada a chapa vitoriosa nas eleições, é chamado o segundo colocado, no caso Aécio Neves do PSDB. Todos sabemos, que as mesmas empreiteiras corruptas e processadas na Lava Jato são as mesmas que contribuíram também para a campanha de Aécio. Assim, se cair o PT sob este fundamento, numa questão de tempo para o processo, e sobre os mesmos argumentos deverá cair o PSDB. É a angústia de toda uma sociedade que, perplexa, sofre as consequências da luta pelo poder e na defesa de interesses individuais, denegrindo ao extremo qualquer perfil de seriedade, ética e governabilidade. A irresponsabilidade é incomensurável e nós, somente nós pagaremos a conta.