Dr. José Kormann (Histórias da História)
Historiador
Do relatório do Capitão Potyguara
Sua coluna compunha-se de 500 combatentes e foi, certa vez, atacada por, aproximadamente, 2.000 homens entrincheirados por traz de imbuias e pinheiros. Fuzilavam terrível e certeiramente. Atacavam aos gritos de degola, degola! No primeiro encontro mataram a facão 4 soldados. A revanche não se fez esperar. Os soldados contra-atacaram, em luta titânica, a baioneta, tiros e facão. Logo se viram grupos de jagunços mortos. Era um sibilar de projéteis de winchester, comblain e mauser. Em pouco tempo os vencemos por completo. Nesse acampamento queimamos 1.181 construções: casas, ranchos de palha e igrejas. Foi uma chacina.
Envolvimento de autoridades
Demétrio Ramos, chefe de jagunços em Canoinhas, reuniu mais de 600 homens, mas faltou armamento. Telegrafou ao Governo de Santa Catarina e logo lhe remeteram 130 carabinas comblain e uma ordem aos negociantes do lugar para que todo fornecimento necessário lhe fosse entregue por conta do Governo. O mesmo se dava com os ex-subcomissários de polícia Antônio Tavares e Bonifácio José dos Santos, vulgo Bonifácio Papudo, ambos chefetes de verdadeiros grupos de bandidos. Também Maria Rosa de Canoinhas foi intermediária no comércio de armas com importantes municípios da região, inclusive Afonso de Sá Gomes ex-juiz de Rio Negro e outros.
O Contestado e a História Militar Brasileira
Até então o Exército ainda vivia a euforia da vitória sobre o Paraguai em 1870 e quase nada havia aprendido com Canudos em 1897. A República proclamada por ele em 1889 não cumpriu suas promessas e sua Proclamação não passou de um simples desfile militar, pois o Imperador não esboçou um mínimo de reação. No interior desse Exército havia uma disputa acirrada por sua modernização. Eram os “jovens turcos”. Diziam, eles, que o Contestado comprovou essa necessidade. Já os do contra tentavam transformar essa luta num simples combate a caboclos desorientados e assim ficou essa ideia até que verdadeiros cientistas acordaram e a estudaram.
O Contestado e a Modernização do Exército
No exército de Setembrino de Carvalho havia oficiais das mais diversas formações e assim as instruções às tropas variavam de acordo com os respectivos conceitos e as situações peculiares de cada momento. Para sanar essa lacuna, o General adotou uma síntese dos regulamentos franceses e alemães. Um de seus membros do Estado-Maior era da revista A Defesa Nacional e esta defendia o princípio de abandonar as estratégias semibárbaras por princípios táticos clássicos. O Contestado, uma das maiores operações militares já executadas em solo brasileiro, acionou também a força aérea e a marinha para controlar o Rio Iguaçu por onde se abasteciam os insurretos.
Modernização militar e política
Pelo Contestado o Presidente Marechal Hermes da Fonseca (1910-1914) ganhou novo ânimo, que já lhe medrava desde 1906, pela modernização do Exército Nacional. Em 1910 enviou à Alemanha 21 oficiais. É desse grupo que nasceu o “jovens turcos” e da conceituada revista militar alemã, Militär Wochenblatt, nasceu a revista brasileira A Defesa Nacional. Esta revista analisou, militarmente, a luta do Contestado e suas causas para a construção de uma força rigorosa e coesa, pronta para guerrear e defender contra seus inimigos internos ou externos e dizia que os revoltosos eram uma espécie de turba guiada por espertalhões que só visava atingir seus objetivos.
Sumário
Área: centro norte catarinense, 40.000 Km2; exército: 7.000; caboclos mortos: 10.000; militares mortos: cerca de 500; população da área: 30.000; data: 1912 a 1916.