Dr. José Kormann (Histórias da História)
Historiador
O Exército encerra sua missão
No dia 06 de janeiro de 1916 o Ministro da Guerra deu por encerradas as ações do Exército na região do Contestado. A 20 de outubro, do mesmo ano, foi assinado o acordo pelos governadores Felipe Schmidt de Santa Catarina e Affonso de Camargo do Paraná pondo fim às questões lindeiras entre os dois estados. Mas isso ainda não era, verdadeiramente, o ponto final nos problemas do Contestado. A pacificação na sua totalidade não foi feita. A situação crucial dos caboclos não foi resolvida. O banditismo continuava solto em grupos menores ou simples individualidades que perambulavam a região fazendo vinganças e tentando viver de roubos e assaltos.
Os caboclos
Os caboclos do planalto centro norte de Santa Catarina foram os protagonistas da dita Guerra do Contestado. Geralmente e infelizmente na maioria das vezes não passaram de massa de manobra de bandidos, de políticos inescrupulosos, de coronéis fazendeiros e de fortuitas circunstâncias históricas. De objetos tentaram virar sujeitos. Esta insurreição teve uma origem política, social, histórica e até religiosa. A sociedade cabocla era dominada pelos coronéis fazendeiros sob a proteção de seus agregados e peões ou vaqueanos e era composta por milhares de dispersos pelo sertão, sobrevivendo de erva-mate, pinhão, caça, pesca e agricultura de subsistência.
Em total abandono
As autoridades foram omissas, negligentes e muitas vezes até mal-intencionadas. Muito pouco ou quase nada se preocupavam com os caboclos. O governo só existia para deles cobrar. Tudo os sertanejos eram obrigados a resolver por si e por seus. A Igreja também estava ausente a não ser nas poucas ações de Frei Rogério Neuhaus e que numa de suas interferências correu perigo de vida, além de ser alemão e assim sua psicologia não se coadunar com a dos sertanejos. O caboclo era supersticioso, pobre, esquecido das autoridades, abandonado pela sociedade e assim foi buscar alguém que lhe desse um pouco de esperança e encontrou o “monge” e suas virgens.
Frutos espúrios da ferrovia
A ferrovia São Paulo – Rio Grande, trecho catarinense, de seus donos das terras, 15 quilômetros cada lado dos trilhos, os caboclos não tiveram um mínimo de consideração. Foram simplesmente expulsos de suas posses e as terras vendidas a imigrantes ou a migrantes. Os operários da ferrovia, quando não mais interessavam eram postos para fora sem a mínima consideração e assim eles se acercavam das irmandades caboclas e foram aumentando os “entulhos humanos”, como excluídos sem terra e dessa forma eles foram manobrados por líderes de interesses escusos ou simplesmente desejosos de sentirem seu ego doentio ser enaltecido como herói.
Dificuldades do Exército
Após várias expedições mal dimensionadas, mal armadas, mal equipadas, sem experiência de combate antiguerrilha, enfrentando fanáticos de José Maria, “coronéis” locais armados pelos poderes públicos ou de grande comércio clandestino de armas, o Governo, finalmente, resolveu enviar um exército completo. As tropas federais se viram em difícil relação quanto a efetivos, armas, verbas, política contrária e reação de oficiais quanto ao empenho do Exército numa questão considerada de polícia. O desempenho do exército não foi dos melhores, especialmente na parte final quando se lutava contra bandidos sem causa e sem ideologia: era briga por briga e nada mais.
Sumário
Área: centro norte catarinense, 40.000 Km²; exército: 7.000; caboclos mortos: 10.000; militares mortos: cerca de 500; população da área: 30.000; data: 1912 a 1916.