Dr. José Kormann (Histórias da História)
Historiador
Tudo pronto para acender o estopim
Nesse ambiente apareceu em Campos Novos, 1910, Miguel Lucena de Boaventura e que recebeu e aceitou o nome de José Maria. Ele é personagem nunca claramente definido. Seria desertor do Exército e autor de crime cometido em Palmas. Era, para os caboclos, o retorno do monge esperado, o formador sebastianista do exército encantado e o restaurador da monarquia. Em 1912 mudou-se, com todo seu povo, para Taquaruçu e posicionou-se a favor do coronel Henrique Paes de Almeida desafeto do coronel Francisco de Albuquerque, intendente de Curitibanos, que o denunciou como monarquista o que era horrendo crime para a nova República.
Irani
O primeiro limite entre Santa Catarina e o Paraná era a Crista da Serra do Mar, depois foi o Rio Negro, depois o Caminho das Tropas – hoje BR 116 – depois a estrada de ferro ou o Rio do Peixe. A conselho José Maria resolveu atravessar este rio para instalar-se com os seus em Irani ou, segundo alguns, ir a Mato Grosso onde haveria terras para todos. Foi com cerca de 340 pessoas. Pouco ao sul de Caçador soldados do Exército e mais 50 homens com metralhadoras o esperavam. Mas ele conseguiu atravessar o Rio do Peixe sem encontrar-se com as forças militares que o esperavam e fixar-se em Irani, terras que o Paraná considerava suas e reagiu violentamente.
A desastrada expedição de João Gualberto
Foram 265 policiais do Paraná contra 340 civis: homens, mulheres e crianças. O Coronel João Gualberto queria um grande desfile de vitória em Curitiba com “catarinenses magrelas amarrados à chincha dos cavalos”. Foi de trem até União da Vitória. Desrespeitou todos os conselhos, inclusive ao monge de voltar a Curitibanos em 48 horas. Alguns muares com munição fugiram durante a noite. Será? A única metralhadora caiu num arroio e molhara as fitas. Será? Um ataque surpresa. A luta foi favorável aos jagunços, mas o monge morreu. Os militares fugiram e João Gualberto também morreu. Era o dia 22/10/1912 e a Revolta Xucra do Contestado explodiu.
A dita Guerra do Contestado
Isso era uma luta de sertanejos insurretos e não propriamente uma guerra civil. A grande maioria dos caboclos, iludidos, nada mais foi do que uns pobres injustiçados e assim transformaram-se em fácil massa de manobra de malfeitores ou de políticos mal-intencionados. Esses ditos jagunços nem mesmo estavam adestrados em operações de guerrilhas, mas a adquiriram em combates através de seus chefes experimentados e pelo instinto de sobrevivência. Por fracasso das forças estaduais de segurança pública do Paraná e de Santa Catarina, foi chamado o Exército Federal pela Presidência da República que temia uma nova Canudos monarquista.
O exército na luta
Este conflito encontrou o Exército em limitadas condições de emprego. O General Setembrino de Carvalho a custo conseguiu reunir sete mil homens. Era um efetivo menor do que em Canudos para uma área muito maior, de revoltados também em maior número, área muito desconhecida e técnicas de luta igualmente bem diversificadas e inesperadas. O Exército procurou, por prioridade, a pacificação: O General Mesquita alegando ser isso uma disputa política dos governadores de Santa Catarina e do Paraná; os significativos e profundos esforços do Capitão Matos Costa; e o General Setembrino de Carvalho que tentou conseguir terras para os revoltosos.
Sumário
Área: centro norte catarinense, 40.000 Km2; exército: 7.000; caboclos mortos: 10.000; militares mortos: cerca de 500; população da área: 30.000; data: 1912 a 1916.