Guerra do Contestado (V)

Causa imediata

Foi na Pensivânia, Estados Unidos, em 1908, que realmente se desencadeou a causa que, usando outras causas já preexistentes, foi a última espoleta que tudo pôs em polvorosa. Nessa data e nesse local, Percival Farquhar adquiriu o controle da ferrovia brasileira chamada São Paulo – Rio Grande e ainda estabeleceu na região do contestado a Lumber. Os líderes da região viram nessa iniciativa a possibilidade de grande progresso, enormes lucros e a modernização da região. Assim esta sociedade, fechada sobre si mesma, viu-se envolvida pela globalização do capitalismo internacional. Muitos o denunciaram como um grande perigo, mas não foram ouvidos.

A ferrovia

Foi inaugurada em 1909 em seu trajeto Porto União(SC) a Marcelino Ramos(RG). Sem dispor de maquinário ela foi construída em ritmo alucinante de 516 m por dia. A mão de obra era composta por 8 mil operários. Estes não saíam de suas dívidas nos 13 armazéns da empresa. Eram os escravos amarrados à conta corrente e sempre policiados por seguranças particulares. Foi-lhes prometido que ao terminar o trabalho seriam devolvidos a sua origem, mas tal não aconteceu. Assim engrossaram o caldo dos já expulsos da grande área cedida pelo Paraná a um coronel e dos que sofreram a mesma sorte forçados a abandonar os 30 km ao longo da ferrovia. Foi o vale tudo.

Vem o messianismo

Messianismo é a doutrina de um messias. Um enviado especial que virá concretizar a esperança e realizar os desejos de justiça, de paz e da visão de um mundo transcendente. Têm fome e sede dos bens terrestres, mas bem mais de imortalidade, de liberdade e de felicidade celestial. É o desejo de paraíso que neles renasce. O governo não lhes mandou padres, professores e juízes, mas atendeu os coronéis das fazendas com metralhadoras e canhões. Matos Costa dizia que “esperança, justiça e instrução” seria o suficiente, mas não foi ouvido. Clamaram então por D. Sebastião, Carlos Magno, Joana d’Arc, o Menino Jesus, os monges e os profetas. Estes vieram.

O profetismo

Três “profetas” também chamados de “monges” andaram pelos sertões do contestado: João Maria d’Agostini – 1850; João Maria de Jesus ou, às vezes, de Agostinho – 1894; e José Maria de Agostinho ou, às vezes, de Jesus – 1912. Havia confusão entre os três. O segundo e o terceiro copiaram o primeiro ou os fizeram copiar. Para muitos era um só que voltava ressuscitado e que teria vivido 150 anos ou mais. Das muitas profecias que deles se fala nada mais se tem do que uma tradição oral alterada pelo transcurso do tempo. Em 1971 alguém nos disse: “Deus mandou-nos um profeta, mas o diabo muitos e hoje não se sabe quem disse e o que disse.” E traz disso tudo...

A luta

José Maria fez o Campo Santo, ou Quadro Santo, ou Reduto em Taquaruçu, atual Fraiburgo. A conselho de lá saíram procurando terras em Mato Grosso, mas pararam em Irani. Lá rezavam, cantavam, faziam via-sacra. O Paraná atacou sob o comando de João Gualberto que morreu na luta, mas o “monge” também morreu. Os caboclos voltaram a Taquaruçu onde fundaram a cidade santa. A vidente Teodora comandava através de visões. O “monge” aparecia a todos e quem não o via apanhava até o ver. O exército atacou e destruiu. Renasceram em Caraguatá, Campos Novos. Maria Rosa, virgem de 15 anos, espiritualmente a Joana d’Arc, comandava os ataques.

Sumário da Guerra

Área: centro norte catarinense, 40.000 km²; exército: 7.000; caboclos mortos: 10.000; militares mortos: cerca de 500; população da área, um total de 30.000 habitantes.