Dr. José Kormann (Histórias da História)
Historiador
Messianismo
Messianismo é a doutrina da espera de um enviado, um messias, que libertasse os moradores da região de seus problemas no completo abandono em que se encontravam. Houve, na região, vários movimentos messiânicos que, geralmente foram reprimidos com extrema violência. Houve, ali, vários monges, mas três foram os principais. Finalmente alguns madeireiros e fazendeiros os ajudaram. A República instalada em 1889 fez os negócios com Grupo Farquhar. A Revolução de 1893 a 1895, federalista e monarquista, deixou, entre eles, alguns elementos. Criou-se assim o monarquismo e o sebastianismo de Antônio Conselheiro. Verdadeiro messianismo.
O sebastianismo
Reinava em Portugal o rei D. Sebastião conhecido como o desejado, o esperado, o amado e do qual tanto se esperava a grandeza de Portugal e do Brasil, mas ainda bem jovem e solteiro desapareceu, ou morreu, na batalha de Alcácer-Quibir e Portugal perdeu sua independência voltando a pertencer à Espanha de 1580 a 1640. Surgiu, especialmente no Brasil, a lenda de que ele voltaria com seu exército encantado. Alguns caboclos do nordeste trabalhando no Grupo Farquhar trouxeram essa lenda para o sul que o Conselheiro lá também usava. D. Sebastião para os humildes virou São Sebastião. Todos os fiéis à causa cabocla, mesmo mortos, seriam desse exército.
Os redutos pelas matas
Em 1913, após um enfrentamento com forças militares catarinenses, cerca de 10.000 pessoas embrenharam-se nas florestas. Surgiram assim os diversos redutos, os campos santos, cada qual com seu líder máximo e seu cerimonial matutino semelhante em todos os redutos: orações, cantos, vivas a São João Maria e a São Sebastião, entre outras coisas, às vezes até execução sumária de pessoas, especialmente já mais no fim da guerra. Começou o roubo de gado e outros alimentos, bem como a busca de pessoas, famílias inteiras, e quem não os seguisse ou tentasse fugir era, de pronto, executado. Em 1914 veio o exército e a tentativa de usar aviões.
A derrocada do mundo caboclo
A Guerra do Contestado foi uma disputa mais sangrenta do que a Campanha de Canudos na Bahia desferida de 1896 a 1897 contra os caboclos de Antônio Conselheiro. Aliás, é de lá que, há indícios, teria vindo algo para a revolução catarinense. Alguns pronunciamentos atribuídos ao terceiro monge, José Maria, tem algo de igual aos de António Conselheiro. Considera-se a Guerra do Contestado como uma das maiores insurreições camponesas da História Humana. Ela foi, na região, a derrocada do mundo caboclo anatematizado como fanáticos, jagunços, rebeldes, bandidos e assassinos. Ela foi de uma crueldade extrema em ambas as partes.
Os redutos
Os rebeldes se estabeleceram em diversos redutos que eles, geralmente, denominavam de campos santos. Havia vários espalhados por toda grande região. Era uma espécie de federalismo talvez emanado de líderes da Revolução Federalista que entre eles ficaram. Sete foram os principais desses centros: Santa Maria, Tavares, Santo Antônio, Tamanduá, Aleixo, São Pedro e Pedras Brancas. Em dezembro de 1914 o General Setembrino de Carvalho, num grande cerco, bloqueou o acesso de armas e de alimentos. Muitos morreram de fome. Vários foram mortos por eles mesmos para sobrar alimento para os outros, especialmente mulheres e crianças.
Sumário da Guerra
Área: centro norte catarinense, 40.000 Km²; exército: 7.000; caboclos mortos: 10.000; militares mortos: cerca de 500; população da área, um total de 30.000 habitantes.