Dr. José Kormann (Histórias da História)
Historiador
Há cem anos os fatos dessa Guerra
Ela aconteceu de 1912 até 1916. Alguns alegam fatos de que ela teria se desenrolado até 1917. As consequências até hoje podem ser identificadas, e são muitas. A principal é o baixo Índice de Desenvolvimento Humano, IDH, na grande região por onde ela aconteceu. Algumas dessas regiões só recentemente conseguiram elevar seu IDH. Esta Guerra foi uma das maiores insurreições camponesas da História da Humanidade. Sobre ela pode-se ter a tríplice visão: da história, da memória e do patrimônio cultural. Esta Guerra foi um dos mais sangrentos e complexos conflitos da História do Brasil que se estendeu por mais de 40.000 km² e mais de 7.000 soldados.
As causas são longas na História
Essas causas iniciam-se com a criação das capitanias hereditárias no Brasil em 1534 quando não foi marcada a divisa entre as terras de Martim Afonso de Sousa e as de seu irmão Pero Lopez de Sousa. Em 1738 foi criado o Governo Militar na Ilha de Santa Catarina ligado diretamente ao Rio de Janeiro. Com isso, aos poucos, toda planície catarinense ficou sendo terra barriga-verde. Em 1853 o Paraná tornou-se autônomo de São Paulo e automaticamente considerou todo planalto até os rios Pelotas e Uruguai como seu. Em 1873 foi fundado São Bento do Sul, a primeira povoação fundada por Santa Catarina no planalto. Era o início do Contestado, uma das causas da Guerra.
A questão no Supremo Tribunal Federal
Começou a disputa entre Santa Catarina e o Paraná. Primeiro com brigas locais, algumas mortes e forças militares na região. Finalmente na justiça federal onde Santa Catarina, de maior influência na área federal, obteve sucesso em três julgamentos: 1904 - 1909 - 1910. Esta decisão fez com que todo atual planalto catarinense, e ainda um pouco mais, fosse propriedade desse Estado em virtude de que a criação das Capitanias falava em tantas léguas de costa até seus vizinhos confrontantes, no caso o país Argentina. O Estado do Paraná reagiu com muita verve vital e o juiz designado para marcar a fronteira não o conseguiu fazer e por isso foi penalizado em 1913.
Iniciam os conflitos
Com a construção da atual Imperial Estrada Dona Francisca interligando a grande produção de erva mate ao porto de São Francisco do Sul e tirava impostos no porto de Paranaguá e depois ainda a construção do ramal ferroviário de Mafra a São Francisco do Sul, os conflitos iniciaram mais intensos em 1905 e 1909, mas a partir de 1911 o grupo Farquhar expulsava sistematicamente os nativos de suas terras. O sertanejo não encontrava eco nos órgãos governamentais e assim se uniu ao terceiro monge José Maria. Este organizou os ditos Campos Santos onde se rezava, cantava, ensinava e se lia algo de Carlos Magno, Santa Joana d’Arc e se tentava imitá-los.
A mesma dor une muito mais do que o mesmo prazer
Mesmo gente rica a eles se uniu. Um coronel fazendeiro comunicou o caso ao governo. A possibilidade de uma nova Canudos assustou. O medo de um movimento monarquista era o que a nova república muito temia. Dizem que alguém lhes prometeu terras em Mato Grosso. Atravessaram o Rio do Peixe e se fixaram em Palmas, o que o Paraná considerou invasão a seu território e mandou forças militares para lá. A 22 de outubro de 1912 deu-se batalha. João Gualberto, comandante militar do Paraná, morreu e o monge também, mas o levante continuou agregando posseiros destituídos, caboclos perseguidos, operários da ferrovia demitidos e toda sorte de marginalizados.
Sumário da Guerra
Área do contestado: 40.000 km²; efetivo do exército: 7.000; caboclos mortos: 10.000; militares mortos: cerca de 500; população da área um total de 30.000.