Dr. José Kormann (Histórias da História)
Historiador
O céu não é lugar de contrabaixos
Este também é um dos adágios que os imigrantes usavam para ensinar. Era o ensino simples que se dava durante o trabalho, mas que funcionava muito bem, causando bom efeito. Contrabaixo é o instrumento musical que acompanha a melodia enfeitando-a e tornando-a, assim, mais bonita; mas ele não cria, apenas enfeita e floreia aquilo que já existe. Era este um verdadeiro refrão de pais e mestres para quem não mostrasse criatividade, não tinha desejos de algo a mais e assim se limitava apenas a acompanhar os demais permanecendo na imanência sem ter a coragem ou a vontade de atirar-se à transcendência. É preciso ser mais, querer mais, elevar-se.
Pela esterqueira se conhece o bom colono
Para o colono, daquela época, progredir, obter sucesso, era necessário que ele tivesse muito e bom esterco, E, para ser feliz, era preciso que amasse e sentisse orgulho de sua esterqueira. Assim poderia adubar bem as plantas, obter boas safras e amar sua atividade. Como não existiam adubos químicos, inseticidas e outras tecnologias, era importante que a agricultura sobrevivesse organicamente através de abundante adubo que era o esterco. Até dizia-se que a esposa do colono pode ser boa pianista, sua filha excelente bailarina, o filho destacado cavalheiro e o colono até mesmo podia tomar sua cerveja, filosofar e politicar, mas não se esquecer do esterco.
O mundo é grande e redondo
Este refrão era muito usado para dizer ao descontente que existe um lugar e uma possibilidade para todos. É só querer, procurar e usar corretamente os meios a seu dispor. Nunca é preciso que se pare chorando no mesmo lugar. O mundo é grande e redondo. Quem fica magoado e amuado, descontente em seu trabalho, só tem dois jeitos de se livrar de graves problemas futuros e entre eles a possibilidade de desenvolver um câncer: ou muda de trabalho ou começa a gostar do que faz. Não há uma terceira alternativa. É realmente, este ditado, um grande ensinamento e muito atinente à realidade dos eternos queixosos e perenes descontes com o que fazem.
Quem engraxa bem, carroceia melhor
No tempo da canção da estrada, como se dizia, houve mais de mil carroceiros filiados ao Sindicato dos Carroceiros Unidos que chegaram a fazer greve visando melhorar o pagamento pelo frete e com isso o porto de São Francisco do Sul chegou a parar. Houve intervenção do Governo Imperial. Este ditado surgiu com estes carroceiros. Todo carroceiro mantinha sua carroça bem engraxada e com graxa da melhor qualidade. Este refrão passou, depois a ser usado para dizer que com estupidez, grosseria e malandragens pouco ou nada se consegue. Sempre é melhor saber ser educado, falar bem, elogiar, ou seja, engraxar. Assim se toca a vida mais fácil.
Aqui passa a divisa
Dizem que dois colonos, trabalhando na roça, comiam da mesma frigideira seu almoço esquentado ao fogo no próprio local do trabalho. Mas deu-se o caso que um deles era mais lento no comer e o outro bem mais rápido . Até que um dia, o mais prejudicado dos dois, traçou com a colher uma linha na comida que havia na frigideira e gritou com voz forte e grave: Aqui passa a divisa! De lá para frente, quando uma pessoa não queria que outra se intrometesse em qualquer assunto que não lhe dizia respeito, afirmava categórica: Aqui passa a divisa! Eram assim estes dísticos usados em forma de suave brincadeira, mas que tinha algo de sério a se considerar válido: a educação.
Por que não sou feliz?
Porque sempre ponho a felicidade onde não estou e nunca a coloco onde eu estou. Só é feliz quem põe a felicidade onde ele está e ama o que tem e não o que não tem.