Dr. José Kormann (Histórias da História)
Historiador
Adágios de imigrantes
Adágio, rifão, sentença moral, anexim, ditado, provérbio, dito, máxima, refrão, divisa, dístico, sabedoria popular, axioma. Isso tudo, e muito mais, a nível popular, diz, mais ou menos, a mesma coisa: um ensinamento popular que, a qualquer momento, se pode passar a qualquer pessoa que o entenderá, facilmente, pela ocasião em que a coisa se sucede. Ele é como um bom discurso que, não pode ser feito, acontece. Aqueles pioneiros solitários nas matas, longe de tudo a nível social, foram obrigados a prover-se de tudo. É assim que cantos, poesias, histórias e estórias, como os célebres adágios passaram a fazer parte da educação social, extra classe, das comunidades.
Bebamos mais um e vamos em frente
Este é principalmente de época dos carroceiros. Em cada bodega, e não há via muitas, eles paravam. Davam água e ração aos cavalos e, enquanto isso, eles também bebericavam, para finalmente exclamarem: “Bebamos mais um gole e vamos em frente”. Seria, mais ou menos, a saideira de hoje. Essa expressão virou um verdadeiro ditado popular. Assim quando o líder de um trabalho queria fazer o grupo retornar à atividade, sem, contudo, parecer muito exigente ou chato demais, ele dizia a meia voz de comando: “Olha gente, bebamos mais um e vamos em frente”. Este adágio era muito popular nos tempos de outrora entre todos os imigrantes da região.
Nada já é e alguma coisa ainda será
É um adágio bem característico de quem gosta mais da ação do que das palavras. Daqueles que sobrepõem a prática à gramática. Assim estas pessoas costumavam agir diante de um problema de difícil solução, evitando que houvesse desânimo e inúteis falatórios por parte dos demais, dizendo, simplesmente: “Vamos lá, minha gente, nada já é e alguma coisa certamente ainda será”. Era este um dizer muito característico nas grandes construções de pontes, prédios, rodovias e até da ferrovia. É até mesmo um dizer semelhante àquele que diz: “O caminho se ilumina à medida em que se anda”. Nem sempre dos meios se consegue ver claramente o fim.
Lá por trás dos altos montes
Este ditado originou-se da ideia de quem sonha com soluções mirabolantes para os problemas de sua vida cuja solução busca através do desconhecido que imagina num mundo de fadas. Este anexim nasceu quando os primeiros imigrantes da região, antes mesmo de subirem a Serra, lá pelos idos de 1873, empregaram-se na construção da Estada Dona Francisca, mas sabendo que sua morada definitiva seria naquele altiplano, lá por trás dos altos montes azuis que apontavam para o céu e passaram a comentar que mundo maravilhoso se esconderia por detrás daquelas serranias de verde azul celeste. É sonhar com aquilo que está além da realidade concreta.
Cada dois imigrantes fundam três sociedades
Santa Catarina foi colonizado: 1 – por insulares de Açores onde cada ilha dependia de si própria; 2 – por italianos cuja unidade sempre lhes fora grave problema; 3 – por alemães que sempre defenderam seu regionalismo; 4 – por bandeirantes acostumados a resolverem seus próprios problemas; 5 – por gaúchos habituados a sua vida autônoma. Assim Santa Catarina tornou-se um Estado municipalista, sempre desejando sobrepor sua própria localidade ao domínio estadual. O imigrante sempre fundou três sociedades básicas: a escola, a igreja e a recreativa. Era o estímulo do associativismo que entre os imigrantes sempre perdurou e os fez sobreviverem.
Por que não sou feliz?
Porque sempre ponho a felicidade onde não estou e nunca a coloco onde eu estou. Só é feliz quem põe a felicidade onde ele está e ama o que tem e não o que não tem.