Dr. José Kormann (Histórias da História)
Historiador
Cada dia uma flor ao túmulo da esposa
Aquele homem maltratou sua esposa a vida toda. Só não se separaram porque naquele tempo simplesmente nenhum casal se separava. O juramento de “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença” era simplesmente cumprido ao pé da letra. Mas um dia a esposa faleceu, talvez de tristeza. Foi sepultada num cemitério longe da casa do casal. A partir daquele dia, todo dia, qualquer que fosse o dia, o velho, trôpego, ia até o túmulo levar um flor para sua esposa. Um dia encontraram-no morto à beira da estrada. Burro! Tantos anos ele tinha a esposa em casa e nunca lhe deu uma flor. Só xingatórios. Dizem que a felicidade só é sentida depois de perdida. Cuidado com isso!
A empregada doméstica que ficou médica
Duas jovens domésticas começaram a estudar. Uma desistiu logo depois. Disse ela que sua juventude estava se indo. Queria ser moça: andar na moda, ser motivo de atenção da gurizada. Conseguiu. Recebeu assobios ao passar pelos grupos aos domingos. A outra, simples, esforçada nos estudos, recebeu o apoio do patrão. Estudou muito. Reprovou no primeiro vestibular de Medicina na universidade federal. Fez de novo. Passou. Hoje é médica, casada com médico. Estão muito bem: familiar e economicamente. A outra, que quis aproveitar a juventude, hoje é solteirona e doméstica amargurada. Felicidade é uma questão de opção.
Menino pobre, cientista da Nasa
Terceiro ano do Ensino Médio. Curso noturno. Quase todos os alunos eram da elite social. Ricos. Mas um era pobre. Relegado pelos colegas. Não tinha roupas de marca. Além disso, um dia, ele caiu na asneira de, em público, na sala, pedir ao professor para que ele desse mais matérias, mais deveres, mais tarefas. Faltou pouco para que não apanhasse na própria sala, mas ele, tímido, desprezado, continuou firme. Na federal foi estudar Astrofísica. Para sobreviver, ao meio dia, à noite e fins de semana trabalhava como garçom. Hoje é grande a afamado cientista da Nasa. Quem tem objetivos não vê os espinhos a seus pés, mas as flores no além caminho. Siga! Vá!
Viagem frustrada a Minas Gerais
Nunca conte tudo a todos. Seja prudente, cuidadoso, reservado e diplomático. Num internato, só nas férias de final de ano é que os alunos podiam ir para casa. Havia mineiros, gaúchos, cariocas, paranaenses, catarinenses, alguns nordestinos – e até do exterior. De retorno, após as férias, muitos contavam sua longa viagem. Um pobre, que morava lá perto, ouvia com profundos desejos de também, um dia, fazer uma longa viagem. Seu melhor amigo conseguiu o dinheiro para levar seu colega nas férias. Alegria incontida. Contou para todos. Um outro, bom de papo, conversou com o dinheiroso e o primeiro sobrou. Felicidade, guarda-a como um tesouro em teu coração.
Quanto desejo de abraçar seu pai
E havia aquela mocinha que não conhecia seu pai e a mãe não contava quem era ele. A mocinha vivia uma verdadeira neurose: queria conhecer o seu pai. Colegas desaconselharam-na de tal intento, dizendo-lhe que ao conhecer seu pai ela poderia sofrer uma grande decepção, sofrer um verdadeiro desencanto, mas ela, com toda a firme convicção, dizia que queria abraçar seu pai ainda que fosse o pior dos criminosos no fundo da mais nojenta cadeia. Não sei se ela alcançou o seu intuito, mas sempre me lembrei que quantos têm seus pais e nunca os abraçam. O contrário também é verdadeiro. Felicidade é amar o que se tem e merecer o que não se tem.
Por que não sou feliz?
Porque sempre ponho a felicidade onde não estou e nunca a ponho onde eu estou. Só é feliz quem põe a felicidade onde ele está e ama o que ele tem e não o que não tem.