Dr. José Kormann (Histórias da História)
Historiador
O colono descalço, trabalhando no arado
A Kombi da Prefeitura levando autoridades para o interior – a fim de inaugurarem mais uma obra – ia passando pela estrada, quando viram um colono arando seu terreno. Uma senhora, no carro, gritou: “Olhem lá! Isso que é vida!”. E até citou José de Alencar: “Livre ao relento, pobre e sem luxo, na asa do vento, vive o gaúcho”. Todos começaram a comentar a liberdade, o contato direto com a terra virgem, o perfume da verde mata e o cheiro acredoce da terra. Na volta, pararam para falar ao dito agricultor, mas ele, logo que os viu, gritou: “Isso que é vida feliz! Em pleno dia de semana passeando com carro da Prefeitura e ainda recebendo pagamento por isso! Que felicidade! E eu aí no pesado!”.
Como é bom ser adulto ou como é bom ser criança
Uma criança de apenas quatro anos de idade disse certo dia: “Como é ruim ser criança! Os adultos não nos respeitam e nem nos dão a devida atenção. Eles podem ir para onde querem e têm o seu emprego e seu próprio dinheiro para gastar. Não dependem de seus pais”. No mesmo dia ouvi um adulto dizer: “Ai, meus tempos de criança! Eu era feliz e não sabia. Que Natais e que Páscoas! Meu aniversário, então, era simplesmente uma maravilha. A escola que eu odiava – e hoje tenho tanta saudade dos colegas e dos professores. Por que não aproveitei melhor aquele lindo tempo de infância? Como fui burro – e agora já não volta mais”. Criança chora, adulto lamenta.
Por que a cama é tão gostosa
Frio, inverno de geada. Antes de iniciar o trabalho, o grupo todo, reunido, comentava como é triste abandonar o leito quentinho nestas manhãs tão frias. Como seria bom poder ficar mais um pouco na cana, mas a vida de pobre é assim mesmo: nasceu para sofrer. O filho do patrão que estava entre a turma disse: “Meu pai chegou meia noite em casa. Após o trabalho ele teve mais duas reuniões. Antes de se deitar lamentou não ser um simples operário que, após o trabalho empregatício, não tem mais compromissos”. Outro disse: “A cama é tão boa porque temos que nos levantar, pois o dia que isso não mais pudermos fazer, ela se tornará terrivelmente horrorosa”.
Casado ou solteiro?
Uma dupla sertaneja cantou: “Casamento é gaiola; quem está dentro quer sair, quem está fora quer entrar”. Quantos sonhos encantados: “Ah! Como não deve ser bom ser casado!”. Ter o seu próprio lar, dormir juntos, como dois príncipes encantados. Ter os seus filhos brincando pelo lar. Mas quantos casados já lamentaram: “Ah! Se eu ainda fosse solteiro! Se eu ainda fosse livre! Se eu ainda pudesse sair e voltar quando bem entendesse! Se meu dinheiro fosse só para mim. Como é dura a responsabilidade dos pais”. Os contrários se chocam e se excluem mutuamente. É o querer e o não querer. Que nada mais é do que a falta de objetivos claramente bem definidos e escolhidos.
O empregado aposentado que se matou
Numa palestra para funcionários de uma empresa, o palestrante abordou o tema “Objetivos de vida” e perguntou, por exemplo, se já haviam planejado seu tempo de aposentados. Todos olharam para um deles. O conferencista perguntou por que, e disseram que próximo mês este se aposentaria. E perguntado o que faria, ele só fez um sinal de pescar. Realmente se aposentou e foi pescar, todos os dias. Na volta começou a passar no bar, encontrar-se com “amigos” e beber. Cada vez chegava mais bêbado em casa. A mulher começou a reclamar, até que um dia, na frente de sua esposa, se matou com um tiro na cabeça. Aposentadoria infeliz, muito mal planejada.
Por que somos infelizes?
Sempre pomos a felicidade onde não estamos e nunca a pomos onde estamos. Só é feliz quem põe a felicidade onde ele está e nunca a põe onde ele não está.