Dr. José Kormann (Histórias da História)
Historiador
Tudo alguém o fez
Só ele e o pai moravam lá longe, no interior. A mãe falecera logo alguns dias após o seu nascimento. O pai o criou com amor e carinho, embora fosse homem de poucas palavras. Chegou à idade das perguntas: “Pai, quem fez nossa casa?”, “Quem fez o sol?”, “Quem pôs a lua lá em cima e por que às vezes ela é tão pequena e outras vezes tão grande?”, “E a água, por que só corre para baixo?”, “E o vento, o que é isso?”, “A chuva, donde vem?”, “As geadas, o que são?”. E assim as perguntas não tinham fim, como tão infinito é o universo. O filho simplesmente queria saber de tudo, mas o pai, na sua simplicidade bondosa, só respondia: “Filho, alguém fez isso tudo e o fez para o nosso bem”.
Um, dois, três, bendito quem te fez
Algo se tramava na mente do menino. Um Instinto Divino ali mordia. O senso do Ser Superior nele atuava e o incomodava. O pai, na sua inocente simplicidade, achava que comida, abrigo e proteção eram o suficiente, o que seu filho mais precisava. Orações, não lhes ensinou – e talvez nem ele as soubesse. Explicações, só lhe dava aquelas mais práticas da vida comum de sobrevivência na mata. Mas a mente do filho precisava mais e mais ele queria. Perto de sua casa havia três altos morros que o menino gostava de contemplar. E assim, por Senso Divino, todos os dias, ele começou a fazer a seguinte oração: “Um, dois, três; bendito que tem te fez”. Seu pai, feliz, sorria.
Deus te ajude, padrinho!
Veio o dia tão desejado e prometido pelo pai. Foram a pé e descalços para a aldeia mais próxima, após longa caminhada. Foram encantos indescritíveis. Tudo era novidade, mas o que ele mais gostou foi da igreja tão linda, tão grande – e que torre, mais alta, apontando para o céu. Sem querer, ele exclamou: “Bendito quem te fez!”. Mas o mais curioso é que o pai o levou a falar com o padre. Que homem diferente! O padre lhe explicou uma porção de coisas que ele tanto queria saber e depois o batizou, sendo padrinho o próprio padre. Domingo, a missa. Quanta gente! Os sinos tocando... Que maravilha! Na elevação de hóstia ele gritou: “Deus te ajude, padrinho!”.
O padrinho ergueu Jesus Cristo pelos pés
Após a missa quiseram saber o porquê desse grito na hora da elevação - o que para uns foi escândalo, para outros foi motivo de riso e ainda outros o consideraram um milagre. O padre pediu para falar com o menino, acompanhado de outras pessoas e o próprio rapaz estava todo assustado. No interrogatório ele contou que viu o padre pegar aquele homem de pés, mãos e peito furado, com coroa de espinhos na cabeça, pela planta dos pés e erguê-lo bem alto para que todos o vissem. Como este homem era grande, alto e forte, não é qualquer um que o conseguiria erguer - sem querer, eu gritei: “Deus te ajude, padrinho; mas que não vou fazer mais isso”.
Novo encanto pedagógico
Ficou na aldeia com o padre. Foi na escola por lá mesmo. Logo percebeu colegas bons, não tão bons e alguns maus. Viu que os maus eram corajosos quando em grupos, mas covardes quando a sós. Fez boas amizades. Quanta bondade por tudo havia. Estudou. Fez curso superior. Ficou líder local e regional. Percebeu o quanto nos estudos se luta para matar o verdadeiro Instinto Divino que há nas pessoas e que o Senso Divino é covardemente assassinado nas áreas maiores dos sistemas educacionais sob alegação de racionalidade. E que este Senso torna as pessoas Justas, Fortes e Virtuosas: é o que tanto falta nos dias atuais. Eis o caminho a seguir.
Instinto e Senso Divino
Instinto Divino é a disposição natural do ser humano para o transcendental. Senso Divino é a percepção do divino nas coisas e nos atos naturais existentes.