Dr. José Kormann (A História da Câmara de São Bento do Sul)
Historiador
A CÂMARA DURANTE A DITADURA A CÂMARA NA PRESIDÊNCIA DE EURICO GASPAR DUTRA
31/01/1946 a 31/01/1951
Terminada a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) e o Brasil com ares de vitória e consequente sede de democracia fez com que Getúlio Vargas, como símbolo de despostismo, fosse deposto de seu longo governo ininterrupto de 15 anos pelas forças armadas nacionais a 29/10/ 1945.
Até a eleição do novo Presidente houve, assim, a necessidade de um governo provisório em que a Presidência foi ocupada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares, até que se realizassem, democraticamente, as eleições com ampla abertura para o Poder Legislativo e, consequentemente, para as Câmaras de Vereadores de todo Brasil e São Bento do Sul também.
O Presidente Eurico Gaspar Dutra era general do Exército e conseguiu realizar o que o povo brasileiro tanto desejava: paz, progresso, democracia e muita segurança. Nesse período apenas uma Câmara de Vereadores atuou em São Bento do Sul com muita calma e tranquilidade.
A Câmara desse período (1947 a 1951)
A 19 de janeiro de 1947 aconteceu a eleição dos vereadores e a 06 de novembro foi sua posse. Os eleitos foram: Antônio Treml, Carlos Zipperer Sobrinho, Olympio Vidal Teixeira, Luiz Hilgenstieler, Mathias Severiano dos Santos, Alfredo Diener e Luiz Bernardo Olsen.
A mesa diretora desta Câmara foi assim constituída: Presidente, Antônio Treml; Vice-presidente, Carlos Zipperer Sobrinho; 1º Secretário, Olympio Vidal Teixeira; 2º Secretário, Luiz Hilgenstieler.
Assumiram durante esta legislatura os seguintes suplentes eleitos por causa do afastamento temporário dos titulares: Francisco Roesler, José Bail, Emílio Jungton, Theodoro Jungton, Carlos Lampe e Afonso Zipperer. Renunciou ao cargo de vereador suplente o eleito Wenzel Kahlhofer.
A 01 de fevereiro de 1949 foi constituída nova mesa diretora desta Câmara e que ficou assim constituída: Presidente, Carlos Zipperer Sobrinho; Vice-Presidente, Alfredo Diener; 1º Secretário, Olympio Vidal Teixeira; 2º Secretário, Luiz Hilgenstieler. Esta mesma diretoria foi, depois, reeleita para ocupar o mesmo cargo até o final do mandato, 31 de janeiro de 1951.
Cai o nome Serra Alta e volta o nome São Bento acrescido com o do Sul
No livro SÃO BENTO – COUSAS DO NOSSO TEMPO, 1991, de Osny Vasconcellos e Alexandre Pfeiffer, pp. 490 e 491, consta o seguinte:
“Uma bela manhã, em 1943, a população ficou sabendo, por meio dum telegrama vindo da Capital do Estado, que o Município teve seu nome alterado e, a partir daquele momento, se chamaria SERRA ALTA. O nome em si não soava mal. Mas SÃO BENTO era o nome anterior ao do início da colonização, um valor espiritual transmitido de geração em geração e, como tal, representava uma tradição iniludível. A medida, de certo modo, se explicava, pois nesse nosso querido Brasil de dimensões continentais havia muitas cidades cuja homonímia causava problemas os mais diversos aos serviços postais/telegráficos, estatísticos e burocráticos da Nação. Mas formando São Bento do Sul uma sociedade engajada ativamente na História do Brasil, com crescentes aspirações locais próprias, a mudança esbarrou na vocação tradicionalista de seu povo, disposto a não trocar pelas incompreensões e obtusidades do momento a cintilante vivacidade da glória de sua herança.
E tanto pressionou, tanto insistiu que, a 23 de setembro de 1948, num almoço oferecido às autoridades estaduais e municipais no Salão Keil em regozijo às comemorações do 75º aniversário da cidade, o presidente da Assembleia Legislativa Catarinense, José Boabaid, representando, na ocasião, o governador Aderbal Ramos da Silva, leu o decreto restabelecendo o nome de São Bento para nosso Município, acrescido do complemento “do Sul”, solução que traduziu com fidelidade os anseios mais fervorosos do seu povo. Essa leitura fez estrugir entusiásticos aplausos no recinto engalanado e ensejou calorosos cumprimentos ao Dr. Boabaid. Os efeitos da alvissareira notícia se espalharam não em ondulações, mas ondas impetuosas pelos quatro cantos de nossa Comuna.
A Rede Ferroviária Federal conservou o nome de Serra Alta para sua estação local; ele foi mantido também para o bairro onde ela se situa, hoje populoso e próspero”.
Foram, sem dúvida, grandes os esforços da Câmara de Vereadores para que o nome do Município voltasse a ter o nome São Bento, mesmo com o complemento do Sul; embora, como quase sempre, a Câmara, na hora das colheitas do benefício, fosse, e ainda é, esquecida quase completamente.
Sabe-se que tal préstimo fundamental da Câmara foi pela importância de seus componentes que então a compunham e que eram líderes da economia local, pessoas de significativo valor social e de profunda representatividade política cujos nomes impunham respeito perante o governo de Santa Catarina. A prova do que dizemos é que o próprio presidente da Assembleia Legislativa trouxe a fausta notícia a São Bento do Sul pelas estradas incômodas daquele tempo.
Convém que o povo e a própria Câmara Municipal lutem e conscientizem, conscientizando-se também a si próprios, para que o Poder Legislativo Municipal, lídimo representante do povo, trabalhe para que esse Poder seja ouvido e respeitado. É só dessa forma que o município será verdadeiramente um ente da Federação Brasileira, o mais importante até, pois é nele que vive e age o povo.
Um caso hilariante
Frequentes vezes o povo de São Bento do Sul, em questões eleitorais federais e estaduais, ficou à margem da vitória, votando em candidatos derrotados e, às vezes, derrotados muito significativamente de até 300 por 1.
Assim foi também na eleição do General Eurico Gaspar Dutra para a Presidência da República. Ele, quase sempre, era simplesmente chamado por seu sobrenome Dutra. Eram dois os candidatos principais: Dutra do PSD (Partido Social Democrático) e o Brigadeiro Eduardo Gomes da UDN (União Democrática Nacional) quase sempre simplesmente chamado de Gomes.
Aliás, PSD e UDN eram, então, os dois partidos políticos dominantes em São Bento do Sul, mais ou menos ainda igual aos tempos de antanho, o Partido Liberal e o Partido Conservador, ou seja, o Partido Caboclo e o Partido Alemão. As coisas não se mudam tão facilmente quanto se pensa e a Câmara de Vereadores também toda, ela, estava sob os pensamentos do PSD e da UDN.
Durante a campanha eleitoral só se ouvia falar de Gomes e Dutra. A maioria de São Bento do Sul falava a favor de Gomes e muito poucos a favor de Dutra, mas contados os votos brasileiros, a grande vitória foi do General Dutra. Todos muito admirados perguntavam como foi possível que isso tenha acontecido.
Andava então por aí o célebre Adolfo Olsen, contador de muitas lorotas que ele mesmo criava em sua fértil cabeça de invencionices e quando um grupo de importantes pessoas da época estava discutindo como isso foi possível já que ninguém, diziam, esperava por essa, Adolfo Olsen, como sempre folgazão, atilado e muito alegre afirmou:
- Eu sempre tive a certeza da vitória de Dutra. Vocês nunca prestaram atenção nas noites verão ao longo Rio Banhados (antigamente todo alagado pelas margens) o quanto a saparada só gritava Dutra, Dutra, Dutra... e só lá, de vez em quando, um ou outro sapo dizia Gooomes.