Dr. José Kormann (A História da Câmara de São Bento do Sul)
Historiador
São duas legislaturas e pouco
Este foi um período muito violento na História do Brasil. Ele se deu durante o governo dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. São Bento do Sul foi declarado capital oficial de Santa Catarina. O Governo Estado veio ocupar a nova capital acompanhado de um poderoso exército comandado pelo experiente General Argolo, mas este sabendo que tropas revolucionárias sob o comando do General Piragibe estavam subindo pela Estrada Dona Francisca e que outras tropas inimigas viriam do sul pelo Caminho das Tropas ou Estrada da Mata, retirou-se com o Governo do Estado. Deixaram São Bento do Sul abandonado a sua triste sorte.
A incipiente Vila foi invadida por tropas revolucionárias. Infelizmente a população tentou apresentar resistência aos revolucionários o que em outras localidades neste período revolucionário apresentou motivo de degola geral sem dó nem piedade, o que era comum nesta terrível revolução sem prisioneiros, pois todos eram executados sumariamente e São Bento do Sul também estava para entrar neste rol.
Um ex-vereador salva São Bento do Sul
João Filgueiras de Camargo é seu nome. Josef Zipperer em seu livro São Bento no Passado, diz: “Qual não teria sido o fim daquele dia inglório, se o Coronel Figueiras não nos tivesse tomado sob sua guarda e proteção”.
A pior revolução da História do Brasil, sob o ponto de vista crimes e vinganças foi a Revolução Federalista que iniciou no Rio Grande do Sul e chegou até o Paraná e aconteceu de 1893 até 1895.
Dia 5 de novembro de 1893 a tropa do General Piragibe entrou em São Bento do Sul. Eram os revolucionários antigovernistas. No centro de São Bento do Sul houve um pequeno tiroteio. Os são-bentenses eram legalistas, a favor do Governo Federal de Floriano Peixoto e contra as tropas do General Piragibe.
São Bento do Sul fora declarada a Capital Oficial do Estado de Santa Catarina pelo General Argolo que nesta, então, simples Vila se instalara com todo Governo do Estado Barriga Verde já que Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, Joinville e, praticamente, todas cidades catarinenses da planície estavam em poder dos revolucionários. Os poucos habitantes de São Bento vibraram de alegria com este fato inusitado e tão promissor.
Contudo, esta alegria durara muito pouco. Não mais de três pobres dias. O General Piragibe, com sua tropa, subira a Estrada Dona Francisca e se instalara no atual Bairro Dona Francisca. O General Argolo, no centro da Vila de São Bento do Sul, temendo a chegada de possíveis forças revolucionárias pelo Caminho das Tropas e assim ele estaria cercado na capital são-bentense por forças de leste do General Piragibe e militares do oeste, vindas do Rio Grande do Sul, resolveu abandonar São Bento do Sul a sua própria sorte. E estes, por conta própria e com parcas forças, resolveram reagir ao General Piragibe. O que resultou no pequeno entrevero com armas de fogo no centro da Vila.
Sempre, após cada vitória, nesta Revolução, chamada Federalista, vinham as cruéis vinganças mediante a degola dos oponentes. Era a festa dos vencedores. É por isso que a Revolução Federalista foi chamada de revolução sem prisioneiros. Todos, se, houvesse tempo, eram degolados, ou fuzilados, ou torturados até a morte, conforme a categoria de inimigo: inimigo líder, inimigo por obrigação, ou simples suspeito. São Bento do Sul se viu livre disso tudo graças a João Figueiras de Carmargo.
É ainda Josef Zipperer quem comenta em seu livro São Bento no Passado. “Deve-se ao Coronel Filgueiras, chefe federalista em nosso Município, que aquele dia trágico não fosse de consequências ainda mais funestas. Explicou ao comandante da coluna revolucionária que aquela formação de homens armados não tinha outra finalidade senão a de proteger São Bento contra bandoleiros que despontavam na esteira do movimento sedicioso e nada tinha a ver com outro o partido em luta”.
Mais tarde João Filgueiras de Camargo foi assassinado em sua casa, quando num rancho tomava chimarrão, como sempre fazia. O motivo do assassinato, conforme se soube mais tarde, foi o fato de ter ajudado os alemães nesta e em outras ocasiões. Havia em São Bento o partido político alemão e o partido político caboclo. Filgueiras era caboclo, mas – politicamente - protegia os de origem germânica.
Eleições problemáticas
As primeiras eleições de vereadores em São Bento do Sul foram repletas de marchas e contramarchas, de protestos e anulações, de brigas e discriminações, de assassinatos e de ataques à cadeia pública donde os presos foram soltos enquanto outros se banqueteavam comemorando a vitória. É bem verdade que estas coisas nem sempre aconteciam na concomitância do fervilhar da campanha eleitoral. Na maioria das vezes elas apareciam como fruto temporão, meses após, como vingança planejada e bem arquitetada. Outras vezes até explodia no imediato da questão como trovoada em noite de verão. Houve até quem comentasse após uma eleição em que tudo aconteceu calmamente: “Nesta eleição, anormalmente tudo se saiu normalmente”.
Quatro eleições para eleger a segunda Câmara de São Bento do Sul
Este pleito eleitoral foi muito problemática. O Município então já contava com 157 eleitores. Para 01/07/1886 estavam previstas as eleições que elegeriam esta Câmara. Já passava de meio dia e os votantes descontentes se retiravam sem que começassem as ditas eleições da única urna que havia. Eram discussões sem fim entre dois grupos de mesários que queriam constituir a junta receptora de votos, quando só um dos grupos o podia ser. Finalmente decidiu-se o adiamento das eleições, pois que os eleitores, todos, já se haviam retirado.
No dia marcado para estas novas eleições, 12/10/1886, compareceram somente 27 votantes, mas por protesto de um dos mesários, procedeu-se a um terceiro escrutínio no dia 08/11/1886. Compareceram 28 pessoas que votaram, mas o juiz de Joinville, com jurisdição em São Bento do Sul, anulou esta eleição sob alegação de fraude. É que na urna, única que havia, apareceram dois votos a mais do que votantes havia. Assim a primeira Câmara continuou até o final de 1888, mas já no dia 12/08/1888 conseguiu-se, finalmente, realizar esta eleição sem que houvesse contratempos. Apareceram e votaram 57 cidadãos.
A primeira Câmara de Vereadores 100% republicana, de todo Brasil
Isso foi a segunda Câmara de Vereadores de São Bento do Sul. Quem o afirma são os historiógrafos Carlos Ficker em seu livro intitulado São Bento do Sul e Wolfgang Ammon em seu livro Crônica do Município de São Bento. Os vereadores eleitos foram: José Guedes da Silva, Ernesto Wolf (um “f” só e não dois como no nome do vereador anterior que era médico enquanto que Ernesto era comerciante e nem parentes eram), Otávio de Souza Lobo, Alberto Malchitzky, João Ribeiro de Abreu, José Gomes de Sousa e Pedro Gomes da Silva. Esta eleição foi a vitória suprema do Partido Liberal, republicano ou caboclo e a derrota total do Partido Conservador, alemão ou monarquista.
Como presidente desta Câmara e, consequentemente, Prefeito Municipal, foi escolhido o comerciante Ernesto Wolf. Ele foi o quarto prefeito de São Bento do Sul.
Esta Câmara e este Prefeito não terminaram o mandato para o qual foram eleitos, pois dia 15 de novembro de 1889 foi proclamada a República Brasileira e todos os eleitos no tempo do Império foram destituídos de seus cargos, Contudo, em São Bento do Sul esta Câmara continuou até 18 de janeiro de 1890.
A República em São Bento do Sul
Apesar de São Bento do Sul ter tido a primeira Câmara de Vereadores puramente republicana de todo Brasil, havia também oposição à ideia republicana. Muitos na república viam o verdadeiro Anticristo. Veja: “Nós, os imigrantes de um tradicional império, nada queríamos saber da república que nos significava o verdadeiro Anticristo”(José Zipperer, São Bento no Passado, p. 61).
Como ainda haveremos de ver neste trabalho um pouco mais além, chegou haver em São Bento do Sul verdadeiras brigas entre republicanos e monarquistas. Mas é claro que se nem o Imperador reagiu, muito menos os cidadãos o haveriam de fazer.
Reunião do Clube Republicano de São Bento do Sul
A notícia da Proclamação da República chegou a São Bento do Sul apenas no dia 17 de novembro, ou seja, apenas dois dias depois. Imediatamente o Clube Republicano do Município organizou festejos. Somente com música é que o povo se reunia. Contrataram então a banda de Venceslau Uhlik com pleno apoio do governo municipal 100% republicano.
Dia 18 o Clube Republicano reuniu-se em Lençol na casa de Carlos Stüber sob a presidência do ex-vereador e prefeito João Filgueiras de Camargo. Com a palavra Líbero Guimarães que desenrolou os acontecimentos ocorridos no Rio de Janeiro e aconselhou, para que se mantivesse a ordem no município, formar uma comissão responsável. Para isso foram escolhidas as seguintes pessoas: João Filgueiras de Camargo, Francisco Antônio Maximiano, Francisco Bueno Franco e Francisco Gery Kamiensky.
Com plena aprovação unânime desta histórica Câmara Republicana trocaram os nomes das poucas ruas da iniciante cidade de São Bento do Sul por nomes de considerados heróis republicanos: assim apareceram os nomes de Rua Antônio Esteves, Rua Frei Caneca, Rua Tiradentes e Rua Pedro Ivo.
Estes nomes não vingaram e, com o tempo, todos eles desapareceram e até vários nomes monarquistas renasceram.
Por que São Bento do Sul aceitou a República?
1. Porque os próprios grandes monarquistas concordaram em aceita-la, como: o Imperador D. Pedro II, o Marechal Deodoro da Fonseca que dizia “que república e desgraça completa é a mesma coisa”, e o são-bentense integrante dos de sangue azul Francisco Gery Kamiensky e que em sua casa recebeu o Conde d’Eu – consorte da herdeira do trono brasileiro quando este visitou São Bento do Sul.
2. Grandes quantidade de são-bentenses só muito tempo depois ficaram sabendo que a República foi proclamada o que, aliás, aconteceu na própria capital do País, e tantos outros nunca sabiam o que realmente significa a palavra república. Outros até diziam que os vereadores de São Bento do Sul a proclamaram.
3. Houve, após a derrota da França – a mãe cultural do Brasil, como se dizia - em 1871, uma forte oposição à colonização europeia e principalmente germânica e um forte apoio ao indianismo e nacionalismo após a Guerra do Paraguai (1864 a 1870) e assim a Sociedade Colonizadora não encontrou mais apoio no Governo Imperial e dessa forma foram demitidos muitos funcionários e cortadas bruscamente todas as subvenções e favoreceu a oposição que se consolidou na República.
4. O presidente da Província de Santa Catarina nomeou para São Bento do Sul algumas autoridades antipáticas o que os republicanos sentiram e o conseguiram trazer para sua causa.
5. João Filgueiras de Camargo, o grande amigo do Partido Conservador, foi o presidente do Clube Republicano de São Bento do Sul e isso calou muitos monarquistas convictos.
Obs.: É claro que você pode colaborar com fotos. Muito Obrigado! Meu e-mail é josekormann2@gmail.com é claro e com prazer.