Dr. José Kormann (A História da Câmara de São Bento do Sul)
Historiador
Capítulo V
A CÂMARA DURANTE A DITADURA DE GETÚLIO VARGAS
03/11/1930 a 29/10/1945
A ditadura de Getúlio Vargas
Como disse alguém, certo dia: “Não é fácil falar, sem preconceitos, sobre o período em que Getúlio Vargas governou o Brasil, pois Getúlio ainda tem amigos e ainda tem inimigos e assim a verdade plena não encontra capacidade para poder aparecer”.
Foram quinze anos de pura ditadura, às vezes, obumbrada de democracia. Foi o fim da Política do Café com Leite. A época em que o tenentismo quis tomar o poder e parcialmente o conseguiu na pessoa de Getúlio Vargas. Na realidade foi um período dos extremos em que o totalitarismo andava na moda e em tantos países apossou-se dos poderes estatais e assim no Brasil e também e em São Bento do Sul deixou suas marcas históricas.
Além disso, foi também nesse período que aconteceu a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), mas já antes disso deu-se a Revolução Constitucionalista de São Paulo em 1932 e igualmente a Intentona Comunista em 1935, a tentativa de golpe de estado em 1938 e ainda, em 1943, a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial com o envio da Força Expedicionária Brasileira para os campos de batalha em que vários são-bentenses também lutaram e até houve quem ali perdesse a vida.
É facilmente compreensível que esse clima psicológico e real também influenciou profundamente o povo de São Bento do Sul e seu governo municipal. Durante esses 15 anos houve em São Bento do Sul apenas uma legislatura e 13 prefeitos, sendo um eleito e 12 nomeados o que dava 1,15 prefeitos por ano. Imagine a barafunda política que era isso.
Única legislatura desse tempo – 1936 a 1939
Sob um clima bastante tenso, mas pacífico em virtude de medo e muita insegurança, realizaram-se as eleições para a Câmara Municipal e o cargo de prefeito de São Bento do Sul num período em que Getúlio travestiu-se, ou deixou-se travestir, de democrata.
Nesta eleição para Prefeito foi eleito Ernesto Venera dos Santos e para vereadores foram os seguintes candidatos: Roberto Buchmann, Germano Rudnick, Engelberto Grossl, Carlos Lampe, Dr. Pedro Raimundo Cominese, Martim Zipperer e Wenzel Kalhofer. Estes tomaram posse no dia 06 de abril de 1936.
Durante esta legislatura houve a renúncia ao cargo de vereador por parte de Germano Rudnick. O que se deve à insegurança e medo que perpassavam os componentes políticos naquela época politicamente difícil.
No livro O Poder Legislativo Em São Bento do Sul de Izân Husmann, 2002, (não há citação de páginas neste livro) lê-se:
“Embora marcada nova reunião da Câmara Municipal para a 1ª quinta-feira do mês de dezembro de 1937 não foi possível a sua realização em consequência da implantação do ‘ESTADO NOVO’ por Getúlio Vargas.
Em 10 de novembro de 1937, policiais do Rio de Janeiro cercam o Senado Federal, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais são fechadas em todo o país. Somente com a queda de Getúlio Vargas em 29 de outubro de 1945, o processo de redemocratização é iniciado.
O livro de Atas com Termo de Abertura em 06.12.1947, assinado pelo Juiz Eleitoral da 30ª Zona, Dr. Eduardo Domingos da Silva, assinala o início da 1ª Legislatura após a ‘Era Vargas’.”
Neste texto citado se fala do fechamento das diversas instâncias do poder legislativo no Brasil, mas foi esquecido de citar também a Câmara dos Deputados que igualmente foi fechada.
Apenas duas realizações significativas
Nesse período de três anos e sete meses a Câmara de Vereadores realizou apenas suas funções corriqueiras mais comuns já que se vivia num clima de ditadura e de pré-Guerra Mundial.
Contudo, mesmo sem a Câmara, duas decisões históricas para São Bento do Sul foram tomadas pela prepotência do Poder Executivo Municipal e outra por decisão Poder Executivo Estadual.
a) A primeira foi um ato de puxa-saquismo a favor de Getúlio Vargas. É que na eleição presidencial que Getúlio Vargas perdeu, São Bento do Sul havia votado preferencialmente para o candidato vencedor Júlio Prestes, mas agora o Presidente Revolucionário era Getúlio. Então, querendo agrada-lo, denominaram a única praça que havia em São Bento do Sul de Praça João Pessoa. Este João Pessoa era o Vice de Getúlio que foi assassinado em seu Estado, Paraíba. Mas depois os líderes revolucionários de São Bento do Sul entenderam que mais valia agradar um líder vivo do que um líder morto e assim resolveram denominar este local de Praça Getúlio Vargas cujo nome ela ostenta até hoje com alguns protestos, até recentemente.
Assim esta praça pública já esta, atualmente, com o terceiro nome. De Kammergartem passou a Jardim Municipal, e deste para Praça João Pessoa, e depois ficou com o nome de Praça Getúlio Vargas. Há que lutou para que seu nome fosse transformado para Praça Manoel Gomes Tavares, o bom Prefeito que a fez.
b) Proveniente ditatorialmente do governo estadual trocou-se o nome do Município de São Bento (sem do Sul era o nome do Município naquele tempo) para Serra Alta - não o atual Bairro, mas o Município todo - isso foi em 1943. O povo não gostou e se revoltou e, dessa forma, em 1948, conseguiram de volto seu antigo nome, porem acrescido com a explicação, do Sul, ou seja, como hoje se chama São Bento do Sul.
Socos, tapas e pontapés
- Só por causa da chave da Prefeitura de São Bento do Sul –
(Sob este título e subtítulo veja um excerto do livro HISTÓRIAS DA HISTÓRIA,
já pronto, mas ainda inédito, da lavra de nossa autoria)
“Na eleição de 30 de março de 1930 dois candidatos concorreram à Presidência da República: Júlio Prestes, o candidato da situação; e Getúlio Vargas, o candidato da oposição. Contados os votos de São Bento do Sul, ganhou Júlio Prestes na proporção de 300 votos por 1. Foi uma vitória massacrante do candidato oficial, Júlio Prestes, e derrota do candidato oposionista, creio, ainda não superada por outro candidato nesta localidade são-bentense.
A 22 de julho de 1930, João Pessoa, o vice de Getúlio Vargas, foi assassinado no Estado da Paraíba, o seu estado. Este assassinato que foi um mero acaso de ódio pessoal local, mas foi transformado pela mídia oposicionista, num grande jogo político dos derrotados. É por isso mesmo que no dia 03 de outubro de 1930 começou no Rio Grande do Sul e no Nordeste do Brasil a revolução do tenentismo derrotado que não se conformava com sua derrota.
No dia 10 do mesmo mês o Tenente Numa Oliveira, comandando um pelotão do 13º Batalhão de Caçadores de Joinville se instalou militarmente em São Bento do Sul com o objetivo de aqui controlar os ideais da Revolução. Era ele pessoa digna e de boa índole que evitou toda sorte de revanchismos. A 03 de novembro de 1930 Getúlio Dorneles Vargas tomou posse como Presidente Revolucionário do Brasil. O Prefeito de São Bento do Sul era o cearense Luiz de Vasconcellos, mas seu lugar tenente na Prefeitura era Hugo Fischer, já que o titular estava exercendo o cargo de Deputado Estadual em Florianópolis.
Hugo Fischer, governista como quase todos em São Bento do Sul, estava em sua casa, atual Sociedade Literária, quando lá apareceram Reinaldo de Almeida Groth e Próspero Eloy, exigindo em nome da Revolução vitoriosa, a chave da Prefeitura de São Bento do Sul.
Quando Hugo Fischer a foi buscar e com ela voltou, jogou esta chave para que um dos dois a pegasse, pois não sabia a quem entregá-la. E foi aí que os dois se engalfinharam e entraram em luta corporal pela posse da chave e o consequente domínio do Poder Executivo local, sempre muito forte em períodos revolucionários.
Reinaldo Almeida Groth levou a melhor e acabou por tornar-se o primeiro prefeito getulista em São Bento do Sul, mas com marcas de uns bons sopapos no rosto e o traseiro doído por violento pontapé que recebeu de Próspero Eloy ao sair da sala de Hugo Fischer, atual Sociedade Literária.