Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Semana passada saiu uma pesquisa sobre as cidades com maior qualidade de vida no mundo. Entre as dez primeiras, oito ficam na Europa, uma na Nova Zelândia e outra no Canadá – não há nenhuma nos Estados Unidos. A primeira colocada foi Viena, a capital da Áustria. Para chegar ao resultado, foram analisados critérios como o ambiente social, econômico e político, fatores médicos e sanitários, escola e educação, serviços públicos e transportes, entretenimento, bens de consumo, habitação e – ufa – o clima.
Não deixo de achar o resultado muito curioso. Isso porque foi justamente de Viena que a família Fendrich imigrou para São Bento – ou seja: para eles, e ao menos naquela época, Viena não estava com essa bola toda. Era melhor tentar sorte aqui no Brasil. Foi o que fizeram. Não sei em quais condições eles estavam vivendo na Europa. Com certeza não eram as melhores. Do contrário não teriam aceitado o convite da família Zipperer para que também viessem a São Bento, retratada nas cartas como um pedaço do Jardim do Éden.
Quando imigraram, em 1875, Viena já contava com cerca de 700 mil habitantes. É gente pra burro. Ainda que não estivessem vivendo como gostariam, é de se imaginar que os Fendrich poderiam encontrar por lá mesmo algumas boas oportunidades de crescimento. Ah, mas imagino que a questão familiar tenha pesado bastante. Os Zipperer eram seus parentes. Queriam todos se encontrar em um mesmo lugar. Que fosse São Bento então!
Houvesse uma máquina do tempo, eu recuaria até o dia em que os Fendrich chegaram ao Brasil e se deram conta de que a cidade paradisíaca que haviam prometido a eles contava com mais ou menos 500 habitantes, cercados por muito mato, e vivendo com medo de ataques selvagens, sem nenhum atendimento médico, sem nenhuma assistência religiosa, nenhuma possibilidade de caça, nenhuma escola para ensinar as crianças.
Não é preciso ser um estudioso da época para imaginar que Viena estava, digamos, um pouquinho melhor do que São Bento. De toda forma, não havia mais o que fazer. Sem dinheiro para voltar, trataram de se arranjar aqui no Brasil mesmo.
Sou a quarta geração desde a imigração, e decidi fazer as minhas também – embora nenhuma delas tenha sido para um lugar menor. Primeiro fui para Curitiba. Fui porque não havia curso de Jornalismo na cidade. Vivi lá cinco anos e parti para Brasília. Fui, entre outras coisas, porque não havia emprego de jornalismo na cidade. Ou seja, as minhas mudanças tinham como objetivo uma satisfação pessoal, mas que, nem por isso, deixa de fazer parte dos critérios para se definir a qualidade de vida de uma cidade.
E segundo a mesma pesquisa, Brasília é hoje a 101ª melhor cidade para se viver no mundo – mais do que isso: é a primeira colocada entre as brasileiras. É bem verdade que analisaram apenas as maiores cidades de cada país. Ainda assim, o resultado me espanta. O ambiente político por aqui é sempre dos piores. Social também. E os serviços públicos? Tenho certeza que o transporte coletivo funciona melhor em São Bento. Isso sem falar no clima de deserto por aqui. Não, alguma coisa está errada nessa pesquisa.
Preciso passar uns dias em São Bento para tirar a prova.