Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Ver um filme triste faz bem. Já houve até pesquisa mostrando que as pessoas ficam mais felizes depois de ver um filme triste. E, se for ver, faz sentido mesmo, porque o sujeito compara a história do filme com a sua própria e percebe que, no fundo, as coisas não estão tão más assim. Pelo menos ainda há alguma esperança, os créditos ainda não começaram a subir. Quanto mais triste for a história do filme, maior será o esforço que a pessoa precisará fazer para ficar bem depois que ele terminar. Não espanta que, no meio disso, ela acabe esbarrando na própria felicidade e passe até a amar todos à sua volta com mais fervor.
Agora, se a pessoa quiser ficar feliz MESMO, será preciso que ela não apenas veja um filme triste, mas também que derrame algumas lágrimas durante a sua exibição. É coisa bem sabida que chorar libera um hormônio que traz sensação de bem-estar. Mas isso, é claro, só pode ser desfrutado depois que o filme acaba, e deve ser esta a razão para que tanta gente ache que os benefícios de um filme triste não compensam as suas horas de sofrimento.
Uma amiga em especial alega não gostar desse tipo de filme porque se envolve demais com o drama dos seus personagens. Esta amiga é psicóloga, o que sugere que já está acostumada com o drama de pessoas, muito embora não se possa dizer que fique mais feliz depois de ouvi-las. Não quer, portanto, que também as suas horas de entretenimento sejam dedicadas à miséria de nossa existência.
Da minha parte, devo confessar um outro motivo que me leva a preferir os filmes tristes a quaisquer outros, qual seja, o de me identificar com os seus personagens. É certo que a maioria deles possui problemas muito maiores e mais complexos do que os meus, mas não deixa de ser um alívio, para mim, constatar que há mais alguém sofrendo por aí – mesmo que de mentirinha. Eis a verdade: o que eu espero em um filme triste é compreensão para os meus próprios dramas existenciais. O meu desejo é justamente me envolver com a história. Ver um filme triste não me deixa mais feliz, mas um pouco menos só.
O cinema, no entanto, jamais produziu o tipo de filme que eu espero, um em que eu me sinta plenamente representado pelo seu personagem principal. Como todo mundo, eu também acho que minha vida daria um filme – e não seria uma comédia. Um dia eu mesmo farei um roteiro. Será um sobre um homem jovem, magro, franzino mesmo, que mora sozinho e sofre de fobia social – o cinema nunca abordou decentemente a fobia social.
Este homem não fará mais do que ir de casa para o trabalho, onde se limitará a ficar na frente do computador em uma sala vazia. Se há um lugar a que irá com frequência será o supermercado, onde comprará as suas comidas de solteiro. Porque não haverá romance na vida dele, não haverá nem a sombra de um romance – Hollywood que me perdoe. Haverá apenas um homem que volta para casa, carregado de sacolas, e que olha ansiosamente para o celular, na expectativa de ter uma conversa.
Chegará em casa com sono, pois também terá dificuldades para dormir, e lá dentro não acontecerá praticamente nada, até o dia seguinte. Apenas um computador será ligado e um filme começará a rodar – não é preciso que se diga de que tipo será ele.