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Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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Otto e a cidadania europeia

Terça, 22 de novembro de 2011

Dia desses, encontrei Otto, o Bismarck das Araucárias – assim chamo esse ilustre são-bentense, “alemão de quatro costados”. Pois o Otto chegou para mim e disse: “Fendrich, fiquei sabendo que você mexe com essas coisas de antepassados. Eu quero descobrir quem foram os meus”. Minha primeira reação foi de espanto. Afinal, achei que Otto já devia saber quem foram eles – pois vive dizendo que tem orgulho das suas origens. Pois bem. Quis saber o que havia motivado esse interesse pela vida dos seus ancestrais. E o Otto, sincero como uma balança, disse tudo: “Estou atrás da cidadania europeia”.

Bolas, eu devia imaginar. Volta e meia me procuram por conta disso. Não seria diferente com o Otto, o mais alemão dos são-bentenses – Otto é tão alemão que não é o simples fato de ter nascido no Brasil que irá torná-lo brasileiro. Percebi que a coisa seria longa e pedi que sentasse. Comecei: “Veja bem, Otto. A Boêmia...”. E ele me interrompeu: “Ah, ia bem uma agora. Aceito”. Tive que explicar então que falava daquele antiga região da Europa. Os ancestrais de Otto, como de grande parte dos são-bentenses, vieram de lá.

Perguntou-me então em que parte da Alemanha ficava a Boêmia. Tive que dizer que não ficava na Alemanha. Otto ficou perplexo. Falei que na época era Áustria, e ele perguntou se então éramos austríacos. Respondi que não exatamente, já que hoje a Boêmia fica na República Tcheca. Quase sem ar, Otto perguntou onde é que entrava a sua querida Alemanha nessa história. Esclareci que eram povos germânicos, mas nem sempre habitaram a Alemanha. “Meu Deus! Isso não causa problema para a cidadania europeia?”.

Tive que contar: causa, causa problema, sim. A confusão geográfica é tamanha que hoje é impossível qualquer descendente de boêmios reivindicar uma cidadania europeia. Para começo de conversa, nem sabemos a qual cidadania teríamos direito.  Vamos supor que tentamos a cidadania alemã. Pois bem. A Embaixada da Alemanha diz que um alemão que imigrou antes de 1904 perde automaticamente a sua nacionalidade após permanecer dez anos no exterior sem realizar matrícula no consulado. Também perde se, por vontade própria, adquirir uma nacionalidade estrangeira – como fizeram imigrantes de São Bento.

A isso se soma o fato da Boêmia jamais ter pertencido ao território alemão. Deveríamos tentar então a cidadania austríaca? A Embaixada da Áustria diz que para isso é preciso comprovar que o requerente, seus pais e seus avós possuem nacionalidade austríaca. Portanto, se seu avô não foi naturalizado austríaco, esqueça.

E o Consulado Geral da República Tcheca diz que todos os documentos para cidadania devem ser tchecos, escritos na língua tcheca e emitidos por órgãos tchecos. Os registros da Boêmia, no entanto, eram alemães, escritos na língua alemã, e emitido por órgãos austríacos. E mesmo assim, seu pai, avô e bisavô precisam ser naturalizados.

Contei isso rapidamente ao Otto. Disse a ele que não havia como conseguir o que me pedia. Otto suava frio. Percebi que estava desorientado. Aproveitei para falar então uma pequena maldade: “Vai ter que se contentar em ser brasileiro, Otto”. Ele então se levantou e saiu, resmungando em alemão. 



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