Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Se o leitor está bem lembrado, na semana passada eu os deixei no parquinho da minha pré-escola, e acho que não poderia deixá-los em lugar mais encantador. Depois que descobrimos aquele tobogã, passamos a encontrar um sentido maior para a escola, e talvez para a vida. Tanto que não demorou até que o parquinho virasse nossa moeda de troca: a professora dizia que só poderíamos brincar nele se nos comportássemos em sala de aula. E, quando estávamos fazendo muita bagunça, bastava que ela nos lembrasse da existência do parquinho para que em questão de segundos ficássemos no mais profundo silêncio.
Nesses primeiros anos em que estudei no São Bento, costumava levar lanche de casa – em geral, pão. Às vezes ocorria de eu ir até a cozinha comer a merenda. Lembro que tinha macarrão com sardinha, e eu só comia o macarrão. Na sexta-feira, havia bolachas Maria com Nescau. Lembro de uma época que havia banana seca. Comíamos, afinal. Mas houve um curto período em que a merenda fez mais sucesso do que a cantina. Foi quando passaram a oferecer sucrilhos. Isso para nós era algo tão maravilhoso que, quando acontecia, nas terças-feiras, a cozinha ficava entupida de gente. Com direito a fila e tudo mais. A coisa chegou a ponto de também ser usada como moeda de troca: se nos comportássemos, a professora liberava a gente cinco minutos antes do recreio, para que fôssemos os primeiros a poder receber um prato de sucrilhos.
Sessões cívicas
Lembro que a gente tinha aulas de canto. Felizmente, não há registros disso. Ainda me recordo daquela canção marista: “Marcelino! Das crianças! E dos jovens! Grande amigo! Seu exemplo! Me fascina! Você pode! Contar comigo!”. Mas o que mais cantávamos mesmo era o hino nacional e o hino à bandeira – esse último, falava em peito “jovenil”. Caso o sinal do colégio tocasse duas vezes seguidas, todas as salas deviam formar fila no pátio da escola. Geralmente, para uma sessão cívica. As filas eram formadas por ordem de tamanho. Ficávamos a uma distância determinada um dos outros. A coisa era militar mesmo. Tanto que só relaxávamos quando o irmão falava “descansar!”.
Depois de um tempo, pararam de exigir isso da gente. Queriam que a gente fizesse isso apenas nos desfiles de 7 de setembro. Participei de dois ou três. Tínhamos a sorte, ou o azar, de sermos os últimos a desfilar. Ficávamos concentrados muito tempo na frente do Sesi, na rua Benjamin Constant, ou naquela rua nos fundos da Condor. Ganhávamos bolacha Maria, e às vezes algum ponto em matemática. No fim, era divertido.
Havia, e ainda há, duas quadras poliesportivas – que, quase sempre, serviam apenas para futebol. Além delas, uma quadra só para vôlei. Perto delas, um lugar chamado de chiqueirinho. Lá, nos primeiros anos, brincávamos de “matar”. Depois jogávamos pingue-pongue. É preciso falar ainda do campo de futebol. Quando sabíamos que a aula de educação física seria lá, corríamos com tanta vontade que parecíamos ter sido chamados ao paraíso.
Foi isso o que me ocorreu por enquanto sobre o colégio, que hoje não é mais marista e tampouco se chama Cesb. Há mais coisas perdidas no meio disso tudo, mas acho que já está na hora de voltar ao presente.