Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Falta aos livros da região um capítulo sobre a ascensão e queda do Império de Fragosos, localizado estrategicamente na divisa entre Paraná e Santa Catarina. A minha família materna ainda mora lá, e eu sinto uma espécie de emoção quando estou me aproximando e vejo uma placa com o nome da família, que virou o nome do lugar. Houve muitos lugares com nomes de família na região. Avenca dos Teixeira, por exemplo. Ou o lugar chamado de Carneiros. Nenhum deles sobreviveu aos dias de hoje. Persistem, no entanto, os Fragosos.
O lugar não é um dos que mais crescem na região. Diz a lenda que os culpados pela estagnação de Fragosos foram algumas crianças. Certa vez, durante um dia santo, um grupo de meninos começou a jogar bola no meio de uma procissão. O padre irritou-se com tamanho desrespeito e lançou uma maldição sobre Fragosos, dizendo que aquele lugar nunca mais ia crescer. Talvez por causa da maldição, ou por motivos políticos, Fragosos até hoje não tem sinal de telefonia celular. E a tudo isso vem se somar o tempo, que fez esquecer a história dos primeiros moradores.
A família Fragoso
Há quase 300 anos, um Fragoso saiu de Taubaté e foi para Curitiba. Lá, se encantou por uma índia carijó. Eram índios pacatos e trabalhadores, escravos dos curitibanos. Pois o Fragoso não tinha visto escrava mais bonita e tratou de se deitar com ela. A índia engravidou. O pai deu ao filho o nome do próprio avô: Domingos. Mas não casou com a índia. Escolheu como esposa uma mulher branca e livre, filha do dono da índia. Com ela, teve vários filhos e um dia se mudou para os Campos Gerais.
Domingos, que não era filho legítimo, ficou em Curitiba. Aos 12 anos, sua mãe morreu. Ele cresceu e um dia escolheu a sua esposa: Maria, uma pobre mulher, abandonada ao nascer - provavelmente porque também era filha de índia. Os dois tiveram diversos filhos e, entre eles, Theodoro. Este cresceu, arrumou casamento, teve filhos, e já era velho quando resolveu se mudar para a Lapa.
Lá, Theodoro era um simples lavrador que colhia milho e feijão. Não morou muito tempo na Lapa, pois logo morreu. Um dos seus filhos chamava-se Manoel, e já era homem feito e casado quando se mudou para lá, onde viveu até morrer. Vários dos seus filhos, no entanto, eram inquietos o bastante para procurar novos lugares.
E foi assim que, por volta de 1868, começaram a ocupar a região que hoje conhecemos por Fragosos. Foram eles que construíram a primeira ponte sobre o rio Negro. Hoje em dia, a fama de fundador de Fragosos caiu sobre Generoso Fragoso, neto de Manoel. Generoso era negociante, envolvido com figuras políticas, e morreu velho, o que deve explicar essa fama. De qualquer forma, aos poucos os Fragosos foram perdendo a sua ocupação.
"A terra dos Fragosos ia até lá longe", diz minha vó, ou qualquer outro Fragoso. Com o tempo, os Fragoso foram se desfazendo de suas propriedades. "Muitos impostos", dizem. Os filhos de Generoso tinham menos, os netos tinham muito menos, e hoje os bisnetos não têm quase nada. Hoje, os Fragoso sofrem com falta de investimentos na região. Antigamente, os moradores iam até São Bento vender as coisas que produziam: hoje, vão até lá só para comprar.