Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Não costumo assistir novela - no máximo, os últimos capítulos, quando acontece de a novela ser um pouco mais interessante. Geralmente assisto enquanto faço outra coisa - mas assisto. Já fiz coisa muito pior do que isso. Esse ano mesmo acompanhei com interesse os paredões do Big Brother Brasil. E, atualmente, às vezes aproveito para dar risada d'A Fazenda. Acho que a gente perde coisas preciosas querendo ser radical. Mas o que eu queria dizer é que não estou acompanhando essa novela das nove - se você não sabia, agora a novela das oito é oficialmente das nove.
Lembro que vi por acaso o primeiro capítulo, e me pareceu tão absurda aquela cena do casal flertando enquanto o avião caia, que imaginei que não sairia grande coisa dali. E foi por não ter mais prestado qualquer atenção em Insensato Coração que eu demorei para perceber o nome de umas de suas atrizes. E se o leitor não tem o hábito de ver novelas e tampouco acessa o meu blog, também ficará sabendo agora.
Estou falando da Leila, interpretada por Bruna Linzmeyer. Esse sobrenome já denuncia a sua origem. Fui pesquisar e descobri que a moça é de Corupá. Diz ela que um avô é alemão e o outro é negro. Eu não sei quem é o avô da Bruna, mas posso afirmar sem medo de errar que seus ancestrais eram imigrantes de São Bento do Sul. Tudo leva a crer que descenda de Andreas Linzmeyer, um imigrante que teria participado da expedição que deu origem à atual cidade de Corupá. E por lá ficou, levou a família e teve descendentes como a Bruna, que um dia cresceu e saiu de Corupá.
Amor e raízes
E saiu apenas porque não dava mais para ficar. Ela não tem nada contra a simpática cidade. Ao contrário, Bruna demonstra afeição por Corupá e seus moradores. Mas reconhece que lá não podia mais encontrar o que desejava. Seus sonhos ficaram maiores. E então foi correr atrás deles em São Paulo. Não foram dias fáceis - estava longe de tudo que lhe era familiar. Era o preço que precisava pagar, afinal. Mas foi lá que fez as aulas de teatro que, um belo dia, fizeram com que recebesse o convite para um teste na Globo. Foi aprovada e mudou-se para o Rio de Janeiro. Primeiro, participou da minissérie Afinal, o que querem as mulheres?, e hoje podemos assisti-la diariamente na novela.
Parece simples, mas o que Bruna Linzmeyer fez foi algo extremamente difícil e ousado. Foi digno do seu ancestral Andreas Linzmeyer, o pai. Ora, o velho Andreas morava na Boêmia e um dia achou que não dava mais para ficar lá. Mas partir era difícil: aquela era a sua terra natal. Gostava de lá. E também não tinha certeza de que seria melhor no Brasil. Motivos para imigrar, havia. Não existiam mais terras, todos eram pobres e estavam mal empregados. Até que decidiu arriscar. Imigrou. E, aqui no Brasil, conseguiu deixar um legado melhor aos seus descendentes.
Enquanto isso, muita gente permaneceu sofrendo na Europa - não tiveram coragem. E perderam a oportunidade de crescer. Muitos de nós fazemos a mesma coisa hoje em dia: confundimos amar a cidade com criar raízes nela. Não ousamos sair da terra natal. Vamos diminuindo os nossos sonhos. E, por isso mesmo, não somos quem podemos ser.
Meus cumprimentos, querida Bruna.