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Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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Rua da infância

Segunda, 18 de julho de 2011

Ah, logo eu, que na semana passada enchia o peito para falar que não era saudosista! Pois hoje estou de volta à mesma rua em que morei na minha infância. Ficava lá nas alturas da 25 de Julho e se chamava Carlos Ficker. O fato de eu ter morado lá foi, na verdade, uma grande ironia do destino. Sabendo que eu viria a me interessar pela história da cidade, resolveu-se que eu viveria na própria rua que homenageia o autor do principal livro sobre São Bento do Sul. E assim foi, até os meus 13 anos.

Fizemos parte dos desbravadores do lugar. Antes de nós, apenas o mato. Houve tempo em que nem o ônibus passava por lá - o ponto final era bem antes, e quem quisesse que fosse a pé. Era um tempo de precariedades. O único telefone da vizinhança ficava numa fábrica distante. Quando eu era criança, as coisas já tinham melhorado. O ônibus, pelo menos, já passava lá. A rua tinha uns cem metros, com sete ou oito casas. Com o tempo foi crescendo e se tornou via de ligação com a Cohab. Mas, para mim, a parte que mais interessava eram justamente aqueles cem metros.

 

MATO, GROTAS E TANQUES

Confesso que não havia muita coisa de diferente naquela rua. No máximo, um campinho de futebol, em frente à minha casa, e que depois foi deixando de ser usado, até o mato tomar conta dele. Próximo a ele, havia um matagal ainda maior, que servia para brincar de esconde-esconde e fazer trilha de bicicleta. Depois fizemos outro campinho, mais para baixo, e que também não existe mais - construíram uma casa lá. É desnecessário dizer que a rua era feita de estrada de chão. O asfalto chegou lá apenas depois que me mudei, e imagino que justamente por causa disso.

Talvez a única coisa realmente diferente das outras ruas de São Bento fosse a grota. Todas as casas do lado par da rua davam para uma grota nos fundos. O amigo sabe o que é uma grota? Como são infelizes as crianças que não têm uma grota em casa! É preciso que exista uma grota, coberta de árvores e muito mato, e que nela vivam cobras e outros animais perigosos. A criança precisa sentir medo de ir até lá. E, por causa disso, muitas bolas de futebol são perdidas nela. Na medida em que a criança cresça, deve-se providenciar o roçado da grota. O lugar deve ser devidamente explorado pela criança e seu melhor amigo, agora mais corajosos, trazendo as bolas de volta.

O melhor amigo também morava na rua, mas no lado ímpar. Ao invés de uma grota, havia nos fundos da sua casa uma cerca, que dava acesso a um pequeno lago - ou melhor, a um tanque. Foi para lá que eu fugi, aos quatro anos de idade, na companhia da minha vizinha, de três. Queríamos apenas passear, mas os adultos temeram que fôssemos nos jogar, e vieram desesperados nos salvar. É a lembrança mais antiga que tenho. Depois essa vizinha cresceu e não fomos mais amigos. Mas ela continuava lá quando eu me mudei. Morava com a mãe e o irmão, além da avó, já bem velhinha.

Não, realmente não havia nada de especial na rua Carlos Ficker. Foi apenas a rua em que passei a infância. O leitor provavelmente tem a sua própria rua e, se pensar bem, verá que também não havia grande coisa nela.

Apenas aconteceu de sermos crianças, e isso já a torna diferente.



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