Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Não sei se o leitor ficou sabendo, mas na semana passada aconteceu um milagre na Câmara dos Deputados. Sei que não é o lugar mais apropriado para que esse tipo de coisa aconteça, mas isso só torna o milagre ainda maior. Pois foi lá mesmo que o Código Florestal foi aprovado. Não digo que estou satisfeito com a sua aprovação - e talvez não esteja, pois trabalho com jornalismo ambiental. Nada disso, no entanto, apaga o milagre.
Isso porque, para mim, sempre é um milagre quando a Câmara aprova alguma coisa - e não digo isso por maldade, mas porque são mais de 500 deputados, e uma coisa só é aprovada quando a maior parte deles consegue chegar a um acordo. Sabemos bem como é difícil que dois homens concordem sobre uma coisa - e os deputados são muito parecidos com os homens. Bem se vê, portanto, que não está muito errado quem chama isso de milagre.
Nem por isso foi fácil. Pelo contrário, foi uma novela. O milagre veio na marra, e até a última hora ninguém tinha certeza se iria acontecer. Só que nunca estamos satisfeitos, e agora será preciso um novo milagre no Senado. E caso a presidente Dilma aprove o texto final sem vetos, aí teremos um sinal não de milagre, mas de apocalipse, que, como todos sabem, foi adiado por ser um evento que o Brasil não tem estrutura para receber.
Eu concordo
Não é de hoje que temos o hábito de discordar. Afinal, somos todos cheios de verdades - algumas importantes, mas a maioria vazia e desnecessária. Temos nossas próprias ideologias, nossas convicções e nossos times de futebol, e só com muita dificuldade abrimos mão disso - especialmente o time de futebol. Isso significa que qualquer conversa, mesmo que com amigos, pode facilmente se transformar em conflito.
É por isso que acho tão importante quando acontece o contrário. Que coisa extraordinária é concordar com outra pessoa! Significa que duas pessoas com histórias de vida totalmente diversas conseguiram chegar a um mesmo entendimento sobre um assunto específico! E se isso acontece, o ideal é que essas pessoas não voltem a discutir mais nada, porque aí sim poderão discordar e tudo estará perdido.
Para mim é sempre um pequeno milagre quando uma pessoa entra em uma loja atrás de um produto e consegue levá-lo para casa assim que entrega o dinheiro para o caixa. Foi preciso passar por vários pontos de conflito até esse final feliz. A pessoa podia não gostar da loja, e por isso nem entrar nela. Podia entrar e não encontrar o que queria. Podia encontrar e achar caro. Podia achar barato, mas discutir com o caixa sobre o troco, a fila, ou outra coisa.
No entanto, após analisar todas as circunstâncias, a pessoa ainda assim concordou em levar o produto e, diante disso, o caixa, uma pessoa totalmente diferente, concordou que o levasse! Nos atuais tempos, em que todo mundo está sempre atento para não ser passado para trás, e se possível tirar algum proveito, isso não deixa de ser algo digno de nota. É um milagre que ainda existam milagres como esse.
O leitor talvez ache que estou exagerando. Talvez. Tenho algumas verdades frouxas, e essa não é das mais firmes. O melhor que podemos fazer é ficar por aqui, enquanto há entendimento - e ternura, alguma ternura.