Psicóloga
Estou percebendo que o mundo anda divido em duas classes: super sinceros e super legais. Vivemos nos tempos dos extremos, das características marcantes, aquele negócio de ponderação é coisa do passado, coisa de gente morna.
Algumas pessoas se intitulam super sinceras. Seu lema é “falo mesmo!” O triste é que falam mesmo! Falam sempre e de qualquer forma. Mas, quando uma pessoa se põe a falar, ela não fala para o vento, não fala para as paredes, fala para alguém. Esse alguém se emociona, têm pensamentos, ideologias, desejos, mágoas, dores, esse alguém sente. A justificativa do super sincero é a de que foi provocado e que está se defendendo. Bem, se for uma disputa entre dois super sinceros tentando ver quem ganha, tudo bem, apesar de ninguém ganhar nada. Mas, geralmente não é assim.
De outro lado estão os super legais. São aquelas pessoas que de uma hora para outra caem no choro dizendo não aguentar mais. O que não aguentam? Ser super legais o tempo todo. São aquelas pessoas que estão o tempo todo sorrindo, não ofendem ninguém, parecem estar sempre de bem com a vida. Justificam sua postura dizendo que seriam incapazes de fazer mal a alguém. Mesmo que agredidos continuam tentando ser legais apesar dos olhos marejados de lágrimas. Em seus momentos de choro questionam se merecem ser maltratados e “engolirem tantos sapos”, afinal, são tão legais.
Sempre achei que o melhor banho é de água morna, quente ou gelado demais é no mínimo desagradável e se pensarmos em extremos, fere. Da mesma forma, os excessos do super sincero e do super legal também ferem. Às vezes fere ao outro, às vezes fere a si próprio. O morno é agradável, sempre, assim como as pessoas ponderadas, as mornas.
Se o ambiente está frio ou quente demais, o morno não se encaixa perfeitamente, mas é sempre suficiente. Inclusive o morno aplaca o excesso do ambiente. Assim é o sujeito ponderado, sua fala acalma as relações e garante que ninguém saia ferido. O ponderado não é apático, também experimenta o amor, a alegria, a felicidade, a dedicação e muito mais. Graças a sua ponderação experimenta tais sentimentos de uma maneira sublime, especial, pois está com a consciência tranquila, sem a culpa e a arrogância do super sincero e sem a mágoa e a melancolia secreta do super legal.
Super sincero e Super legal ponderem o significado das palavras que usam para se autodescrever. Ser sincero e ser legal é maravilhoso, o problema está na intensidade extrema gerada pelo “Super”. Tudo pode ser dito, depende de como, onde e quando. Antes de falar ou calar é fundamental questionar, “afinal qual a função dessa fala para mim e para o outro?”. Antes de calar “é justo conosco não tocar neste assunto?”. Abram-se para uma nova experiência o calor e o frio podem queimar, o morno aconchega e quem não gosta de um delicioso aconchego que atire a primeira pedra.