Psicóloga
Esta semana, em uma de minhas viagens a trabalho, devido à dificuldade de ultrapassagem, fiquei alguns quilômetros atrás desses carros da Secretaria de Segurança Pública que fazem o transporte de detentos. A princípio não percebi, mas logo vi que na parte de traz do carro, atrás de uma grade havia um homem que me olhava fixamente.
“O que ele pensa por detrás daquelas grades?” Pensava eu. Já que eu estava dirigindo meu carro, ouvindo a música “Beija eu” na voz de Marisa Monte, e cantando alegremente com a diva. Afinal, estava indo para mais um dia de trabalho, trabalho que amo tanto, lembrando-me do café da manhã com meu amado.
Será que ele teria raiva de mim? Seu olhar não era nada amistoso. Lembrei-me daquele olhar, eu mesma já havia o tido diversas vezes quando era criança e minha mãe dizia “divida”, “seja gentil”, “o que está fazendo?”, “não seja mal educada com seu amiguinho”, “e se fosse com você?”, “respeite aos mais velhos”, “coloque as coisas no lugar”, “arrume essa bagunça”, “você está de castigo”, “NÃO”!
Ouvir essas palavras era muito ruim, afinal, uma criança quer fazer o que lhe der na “telha”, como dizem por aí. É impossível a uma criança analisar a macro situação a fim de julgar o que deve ou não ser feito. Para isso elas têm os adultos. Mas, as crianças fazem cara feia diante das limitações e elementos educativos impostos pelos adultos, pois, a princípio, não fazem sentido.
No entanto, o sentido vem. Veio para mim. Fui percebendo que o amor que meus pais me ofereciam e que eu mesma podia oferecer aos outros e estes a mim, só fazia sentido dentro destas regras. E elas foram se tornando automáticas, lógicas, óbvias, e a cara amarrada, diante da lei, passou. Ficou a alegria, o riso, o cantarolar, o trabalho, o amor, a liberdade.
Foram as regras que meus pais me impunham, e o faziam porque me amavam, que me brindaram na vida adulta com a felicidade de ser livre. De andar por onde quer que eu vá de consciência limpa, leve, feliz.
A lei é libertadora! Aquele homem no camburão não sabe disso, talvez não tenha feito aquela cara pouco amistosa na infância e agora, quando a justiça através dos órgãos competentes quanto à representação da lei lhe impõem o limite, ele faz essa cara. E, ela fica permanentemente amarrotando seu semblante. Mesmo porque, embora tenhamos pessoas maravilhosas trabalhando no sistema prisional, temos também pessoas duras e frias. Mas, tanto essas quanto aquelas não conseguem colocar as regras com o amor que os pais colocam a seus filhos. Isso não é uma crítica, é humanamente difícil e até impossível para algumas pessoas oferecer a um “criminoso” o amor incondicional que nossos pais estão dispostos a nos oferecer. Além de que muitos daqueles que estão atrás das grades não conseguem entender direito esse negócio de amor. Mas, é somente através do amor que as regras são introjetadas e se tornam libertadoras.
Dizer “não” a um filho e lhe colocar todas as regras de convivência e ética entre as pessoas, com amor, são o maior presente que um pai e uma mãe, ou aqueles que estão nestas funções podem dar aos filhos. Mesmo que através de meus esforços, posso dizer que ganhei de meus pais, meu trabalho, meu carro, meu amado, minha felicidade de ser livre...
Pais eduquem seus filhos!