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Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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Otto e a futura senhora Fendrich

Terça, 10 de março de 2015

 

Todo Carnaval eu viajo para o sul, o que é uma maneira de escapar das folias, e em nenhum lugar eu me sentiria mais seguro contra elas do que na casa do Otto, o mais alemão dos são-bentenses.  Otto, naturalmente, não comemora o Carnaval – diz que é uma sem-vergonheira só, e que é por causa disso que o país não vai para frente. Embora considere impossível que um homem alcance a verdadeira felicidade sem fazer uso de cerveja, Otto chegou até mesmo a lamentar quando a televisão mostrou a imagem de jovens caindo pelo chão em festas de rua. Eu não queria comprar briga, e por isso nada falei sobre algumas cenas que vi na Oktoberfest.

A verdade é que eu estava de bom humor. Havia chegado exatamente na hora do café e me empanturrava com os deliciosos cuques oferecidos pela dona Johanna, a mulher do Otto. Papo vai, papo vem, e a dona Johanna me pergunta se eu não penso em me casar. Quase toda vez que eu visito a casa do Otto ela me pergunta isso. Estou convencido de que, para ela, a minha vida é um perfeito fracasso se eu não estiver casado. O próprio Otto concorda com ela, e mais de uma vez me mostrou a conveniência de levar meus genes germânicos a uma nova geração.

Nas outras vezes, eu tive que dar uma resposta evasiva, pois eu realmente não havia pensado em me casar. Mas dessa vez eu tinha uma boa nova, e a anunciei como se fosse uma promessa de vida eterna: “Estou namorando”. O que se passou então foi algo indizível, ficaram os dois tão comovidos com a novidade que nem repararam quando peguei o último cuque de banana. Felicíssimos, começaram a me fazer perguntas sobre quem era a escolhida. Otto queria saber “de que família” ela era. Não pude reprimir um sorriso maroto quando respondi que era “da tradicional família Silva”. Otto recuou, espantado. Ainda conseguiu balbuciar: “Não é alemã”? Fui sincero como um teste de gravidez: era brasileira, tão brasileira quanto um índio botocudo.

Enquanto ele se recuperava, dona Johanna perguntou se por acaso eu não tinha uma foto da moça. Por acaso eu tinha. Tirei-a da carteira e mostrei a ela, que não poupou elogios à “futura senhora Fendrich”. Otto, no entanto, quando viu a foto, não pôde reprimir uma expressão de desagrado. Suspeitei que isso pudesse ter a ver também com a cor da senhora Fendrich – de fato, ela é morena, quase negra. Normalmente sou bastante tranquilo com o Otto, mas aquela suspeita me indignou, e então, como o apóstolo Paulo, eu lhe resisti na face: perguntei o que ele achava de um homem branco namorar uma mulher negra. Otto ficou bastante embaraçado e por um momento não soube o que responder. Como eu insistisse, começou uma confusa explicação sobre os motivos para que esses relacionamentos fossem evitados, chegando a invocar até mesmo “a maldição que Noé jogou em cima desses povos”. Neste momento eu o interrompi e, com os olhos rútilos e os lábios trêmulos, só consegui dizer: “Mentes! Mentes!”

Otto se assustou com a minha reação, e dona Johanna veio se acercar de mim pedindo que eu tivesse calma e não prestasse atenção ao marido. E se eu termino aqui agora, com esse grau de dramaticidade, é apenas para garantir a audiência da coluna na semana que vem. Tschüss!



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