Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Já nem se lembra mais qual foi a primeira a dor, a primeira queixa que fez com que procurasse atendimento médico. Talvez tenha sido depois de uma gripe que foi embora mas ainda deixou um incômodo na garganta por um bom tempo. O clínico geral receitou uns xaropes, mas de nada adiantou. Procurou então um otorrino, que examinou, examinou e não descobriu absolutamente nada. Veio a hipótese de um refluxo e por isso correu ao gastro. Pensando melhor, estava mesmo se sentindo meio mal do estômago. Fez todos os exames, do teste de lactose à endoscopia, e nenhum acusou coisa alguma. Por esse tempo começou a achar que a dor não era na garganta, mas do lado de fora. Talvez uma disfunção da mandíbula. Procurou um dentista especializado e fez um tratamento caríssimo. Não sabe se foi isso que melhorou ou ele que esqueceu da dor.
Até porque nessa época ele começou a sentir outro sintoma: tinha vontade de ir ao banheiro a cada meia hora. Foi ao urologista, fez exame de urina, fez ecografia e tudo estava normal. O médico disse que era uma fase do organismo. Esqueceu o problema do xixi, mas não saiu daquela região ali embaixo, porque começou a se sentir desconfortável para sentar, parecia que o cóccix não encaixava direito e ainda coçava bastante. Correu ao proctologista, se submeteu ao exame do toque e estava tudo no lugar. Relaxou por uns dias, até sentir uma dor estranha na perna. Achou que podia ser princípio de trombose e foi ao angiolista, que não diagnosticou nada. Da perna a dor passou para o braço, e ele foi então ao ortopedista, fez ressonância magnética e tudo funcionava perfeitamente. Tudo isso estava lhe tirando o sono, por isso procurou um neurologista que pediu uma bateria de exames, ao fim dos quais não se descobriu nada.
Um dia lhe aventaram a possibilidade de ser hipocondríaco. Primeiro ele negou, mas depois pesquisou a respeito e concluiu que, de fato, tinha todos os sintomas. Angustiado, pegou o telefone e ligou para outro médico.
Mal-humoradinhas
Não há velório em que as pessoas se mostrem mais contritas do que dentro de um elevador. Por duas vezes me confundi e, em vez de falar “boa tarde” para quem estava dentro, eu disse “meus sentimentos”.
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Era uma mulher linda e encantadora. Até jogar uma latinha pela janela do ônibus.
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Duas razões me levam a não olhar para uma pessoa vestida de forma esquisita. A primeira é que talvez ela não queira chamar a atenção. A segunda é que talvez ela queira.
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Nem todo restaurante que coloca o preço do almoço logo na entrada é barato. Mas nenhum dos que não colocam é.
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Há pedestres que bem mereciam passar por um curso de caminhada defensiva.
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Quem se irrita mais com aquelas reportagens comparando o comportamento dos dois sexos, o homem ou a mulher?
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Cantei “Faroeste Caboclo” do começo ao fim sete vezes – e o ônibus ainda não apareceu.