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Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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Herói ferido na água amarela

Terça, 10 de fevereiro de 2015

 Sob o fogo cruzado das memórias alheias, reconstruo a cidade da Lapa pelo que ela tem de mais heroico. Ali se freou uma revolução que, dizem, poderia custar a República. Em menor número, as tropas legalistas impediram durante 26 dias que os federalistas avançassem com a revolução rumo à capital do Brasil. Tudo isso já é muito conhecido e celebrado. O heroísmo do General Carneiro e de todos que tombaram no Cerco da Lapa continua sendo cantado. Mas muito pouco já foi dito sobre o herói ferido na água amarela.

Este foi o apelido irônico que coube a Teodoro, jovem alferes atingido durante o episódio. Segundo o Dr. Philipp Maria Wolff, médico que dele cuidou, era um neurótico que sofria acessos de angústia. Enquanto ouvia estouros por toda parte, Teodoro acreditava que a qualquer momento seria enfiado em um espeto e assado. Durante todo o dia gemia e injuriava, indignado, choroso, louco de medo e susto. De vez em quando confessava a sua covardia, mesmo diante do comandante e seus oficiais. Um rapaz insuportável, anotou o médico. Teve violenta cólica do fígado e febre de mais de 40 graus. De vez em quando tinha desejos extravagantes, como sair da casa em que estava protegido e jantar no hospital, o que só conseguiria atravessando o fogo inimigo. Houve um dia em que os ataques se intensificaram e ele exigiu, vertendo lágrimas, ser transferido para outro lugar. Mas era impossível sair de casa naquele momento, para irritação de Teodoro. Era “um ferrabrás, verdadeira criança!”, nas palavras do médico.

Tinha 22 anos, comemorados durante os últimos dias da batalha. Bebeu um copo de vinho com seu médico, mas ainda demonstrava, como sempre, falta de equilíbrio emocional. Era “nervosismo”, resumia ele. Quatro dias depois o General Carneiro era ferido, dois dias depois ele morria e a cidade da Lapa, finalmente, capitulava. De Teodoro nada mais se soube. Seu nome não entrou para o Panteon dos Heroes da Lapa. Seja dito, em seu favor, que ele pelo menos não matou ninguém.

 

A sangria do Brasil

Um dia fui entrevistar Renato Toniolo, antigo colunista social de Curitiba – foi poucos meses antes de morrer. Pude ouvi-lo contar, talvez pela última vez, algumas histórias divertidas dos clubes que frequentava e das colunas que escreveu por 35 anos. Tem uma impagável. Diz que o Círculo Militar, logo após o Golpe de 64, havia promovido um Baile do Chopp. Em sua coluna, Toniolo noticiou o evento e acrescentou que o General Aragão faria a sangria do barril. No dia seguinte, o próprio General ligou para o colunista e começou a xingá-lo. É que em vez de sangria do barril ele havia escrito sangria do Brasil. Foi uma confusão danada: “Pensei até que ia ter que fugir para o Paraguai”, contou, em meio aos risos.

E teve um dia que estava sem assunto para preencher o espaço da sua coluna e inventou uma nota dizendo que, durante um jantar, o diretor de um clube de Curitiba resolver fazer uso da palavra e, ao fazê-lo, caiu a sua dentadura em cima da mesa. A nota fictícia foi publicada e no dia seguinte havia mais uma ligação enfurecida para Toniolo: “Escuta aqui! Isso que você escreveu no jornal é comigo?”. Era um grande amigo de Toniolo – e devia usar dentadura.

 



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