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Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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Fora das quadras

Sexta, 26 de dezembro de 2014

 

Cheguei à parada de ônibus carregado de três ou quatro sacolas de mercado. Nem por isso deram-me o privilégio de sentar enquanto esperava. Já não havia mais espaço e, em grande parte, isso acontecia porque também estava sentado um sujeito que seguramente passava dos dois metros de altura. Dei uma olhada nele e tive a impressão que o conhecia. Olhei de novo e não tive mais dúvidas: mas é claro! Aquele era um dos jogadores do time de basquete da cidade.Ainda outro dia eu havia visto uma partida sua. Não era, é verdade, uma das estrelas do time. Até porque ainda era muito jovem. Começava sempre no banco e não fosse pelas contusões de outros jogadores ele sequer teria entrado em quadra nas últimas partidas. Não que não fosse bom jogador. Nas categorias de base era o melhor deles. Mas no time profissional ainda precisava lutar muito pelo seu espaço. Agora ele simplesmente esperava o ônibus, provavelmente voltando de um treino, e eu o olhava com simpatia.

Mesmo sendo reserva, aquele grandalhão também é saudado pela torcida sempre que o seu nome é anunciado. A própria torcida organizada grita o seu nome – como faz, reconheço, com todos os jogadores. E durante os minutos em que está em quadra todos torcem por ele, vibram quando acerta um arremesso e lamentam quando a bola bate no aro e não cai. Diante de um lance livre, todas as atenções se voltam para ele. A televisão flagra os seus movimentos. Está nas suas mãos a possibilidade fazer um ginásio vibrar – e mais, de contribuir para uma vitória que dará motivos para toda a cidade comemorar.

Não parece, nem de longe, o sujeito desajeitado que encontro na parada. Por ali ninguém sabe quem ele é, e se soubessem não dariam a mínima. É apenas alguém que ainda não conseguiu dinheiro suficiente para comprar um carro. Se pegar um ônibus lotado, como é de se esperar, ninguém dará o seu lugar a ele. Fora das quadras ele é apenas mais um de nós – outro reserva que ainda precisa lutar muito pelo seu espaço. 

 

Mudo dos dedos

Desde que inventaram o Whatsapp eu caminho pelas ruas transformado em zumbi, totalmente absorto na tela do celular. Mas ultimamente o meu teclado deu para não funcionar. Percebi que algo estava errado quando recebi a mensagem de uma amiga que me oferecia dois livros. Ávido por dizer que queria os livros para mim, comecei a digitar a resposta e percebi que nenhuma letra estava saindo na tela. Tentei apertar com mais força, tentei apertar várias teclas ao mesmo tempo, desliguei, liguei de novo e nada. Dali a pouco eu recebi a mensagem angustiada da minha amiga: “Você está aí???”.  A essa altura ela achava que eu a estava ignorando descaradamente.

E a coisa piorou: não demorou muito e chegou a mensagem de outra amiga querendo saber se havia chegado a surpresa de Natal que me enviou. Não consegui responder, e para ela meu silêncio só podia significar uma coisa: eu não havia gostado da surpresa. Depois chegou a mensagem de um amigo que depois de muito tempo se rendera aos smartphones e pela primeira vez usava o Whatsapp. Certamente esperava uma mensagem de boas vindas. Pois não a teve. Passei por grosseiro e mal-educado até que todos descobrissem que eu estava apenas mudo dos dedos.



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