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Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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Na crise dos 27

Domingo, 30 de novembro de 2014


Jogo bola com o meu primo de sete anos de idade. É muito mais divertido do que ficar parado jogando conversa fora, que é a maneira como os adultos  decidem passar o tempo quando se encontram. Como não me sinto adulto, jogo bola com o meu primo de sete anos de idade. Ainda sou jovem para isso (basta dizer que tenho a idade do Messi). E lá pelas tantas, enquanto eu finjo perder a bola para ele, meu primo pergunta: “O que você quer ser quando crescer?”. Pombas, eu achei que já havia crescido o bastante (embora ainda jogue bola com crianças de sete anos de idade).

Fiquei sabendo assim que não apenas as minhas atitudes não condizem com as de um adulto, mas a minha própria aparência física. O que não devia ser nenhuma novidade para mim, já que a todo momento as pessoas se espantam quando digo que já sou formado. Ainda sou identificado como “aquele rapaz”, “aquele moço”, nunca como “aquele homem”, E, no entanto, já tenho 27 anos, idade em que muita gente já construiu a sua vida e outros tantos (os roqueiros) já a concluíram.

Lembro-me especialmente de um antepassado que morreu aos 27 anos (não era roqueiro). Este tempo foi suficiente para que deixasse geração e se tornasse meu antepassado (foi até mais do que suficiente, pois deixou três filhos). E aqui estou, com essa mesma idade, sem contabilizar nem ao menos três paqueras. Não tirei carteira de motorista, não tenho nada no meu nome – sou adulto, mas não chego a exercer. Em meu favor digo que não sou o único, pois estou rodeado de pessoas que se dizem “na crise dos 25”, que é o nome da moda para quem chega a essa idade ainda sem saber o que quer da vida. O meu caso é um pouco pior porque eu já passei dos 25 e, portanto, já devia ter superado essa crise.

É claro que não falei nada disso ao meu primo de sete anos. Respondi que eu já estava bem crescidinho e, como para provar as minhas palavras, tentei driblá-lo com um elástico. Só que, no meio do movimento, senti o músculo da coxa. Acho que é a idade. 

 

Terrível encontro conosco mesmo

A cada três meses a minha cabeleira se torna insustentável e eu me obrigo a ir atrás de alguém que dê um jeito nela. Mal eu me assento à cadeira do barbeiro e uma mulher me oferece uma série de revistas para que eu me distraia enquanto tesouras e máquinas estiverem derrubando os meus pelos. Recuso, pois atrapalharia a mim e ao cabeleireiro, e não vejo mal em passar alguns minutos entregue aos meus próprios pensamentos.

Coisa que, aliás, tem sido cada vez mais difícil. Admira-me que ainda não veja pessoas mexendo no celular enquanto cortam o cabelo. Já não se admite que uma pessoa fique muito tempo desconectada ou desinformada do que acontece no mundo. E cortar o cabelo leva bem uns vinte minutos, tempo suficiente para tudo mudar, como diz o slogan daquela rádio. Seria no mínimo ridículo se, justamente no instante em que tudo muda, você estivesse imóvel usando um avental onde caem os fios que um dia penteou. Que pelo menos haja uma revista à mão, pois, já que é preciso passar um tempo em completa inatividade, que seja então se informando e acumulando conhecimento. Sobretudo, impedindo o terrível encontro conosco mesmo – Deus sabe o que poderia surgir disso!



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