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Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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Otto vai às urnas

Terça, 21 de outubro de 2014

 

Nos últimos dias, muitas pessoas têm me parado na rua para pedir notícias do Otto, o mais alemão dos são-bentenses. Querem saber o que aconteceu com ele depois que eu lhe joguei na cara, à queima-roupa, que alguns dos seus ancestrais eram baianos. De fato, eu próprio cheguei a ficar preocupado, e foi movido por certo sentimento de culpa que tornei a visitá-lo no último fim de semana. Venho aqui, portanto, tranquilizar a todos: Otto, o Bismarck das Araucárias, nunca esteve tão bem – está tão saudável quanto um soldado prussiano.

Entre as coisas que admiro no Otto está a sua capacidade de esquecer tudo o que lhe desagrada. Por um lado, isso me obriga a repetir a cada encontro que os seus antepassados vieram da Boêmia, e não da Alemanha, mas por outro permite que ele passe por cima, com a maior naturalidade, de informações tão duras como essa de que há sangue baiano correndo em suas veias. Quando fiz uma ligeira alusão ao assunto, ele disse que estava tudo bem, afinal, “também houve imigração alemã na Bahia”. Achei melhor não levar a discussão adiante.

Até porque, não se falou em outra coisa além de política (eu sempre escolho as piores épocas para visitá-lo). Otto, em termos de política, é mais conservador que o Celso Roth em termos de futebol. Tem simpatia pela monarquia e, no fundo, concorda com os imigrantes que viam na República uma espécie de anticristo. Não havendo príncipes ou reis, limita-se a votar nos partidos de direita. Ao analisar os resultados do primeiro turno, Otto voltou a defender a separação do sul do Brasil. Já disse aqui uma vez: Otto quer separar o sul do Brasil. Ou melhor, o sul mais São Paulo e o Mato Grosso do Sul – que, além de ser “do Sul”, ainda tem o Pantanal, que é ótimo para pescar, e não agradaria ao Otto ter que atravessar fronteira para chegar lá.

Deixei que falasse, pois havia prometido a mim mesmo que dessa vez não iria me desentender com ele. O problema foi que dali a pouco chegou o Otto, o filho do Otto. Vocês sabem: o filho do Otto é, sobretudo, o anti-Otto. Ao contrário do pai, o filho do Otto se posiciona sempre à esquerda (às vezes se posiciona tão à esquerda que chega a sair do esquadro). Quando viu que falávamos sobre política, quis entrar na discussão, e garanto que ela não foi nem um pouco mais edificante do que aquelas que temos acompanhado pelo Facebook. Procurei não me intrometer, pensando comigo que tudo aquilo não passava de um simples problema de ortografia (para o pai, o importante era a Prússia; para o filho, a Rússia).

Foi quando eles se viraram para mim e, em busca de apoio, perguntaram o que eu achava. Fui sincero como uma pesquisa de boca de urna: eu ainda não tinha uma posição definida sobre essa eleição. Mal terminei de falar isso e pai e filho se voltaram contra mim, cobrando energicamente uma definição, dizendo que eu não podia ficar em cima do muro, que é preciso ser quente ou frio, que eu não posso me eximir, que é o futuro do país que está em jogo e que não é hora para se acovardar. Olhei espantado para aquela dupla, repentinamente unida em um mesmo propósito. E só então me ocorreu o óbvio: para quem briga, pior que pensar diferente é não pensar em brigar.



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