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Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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Neném na caixa de papelão

Sexta, 17 de outubro de 2014

 


 
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Chama-se Aurora, como poderia se chamar Vitória, ou outro nome bastante simbólico que costuma ser dado nestas ocasiões. Aurora pesa pouco mais de três quilos e mede 47 centímetros – cabe perfeitamente dentro de uma caixa de papelão. Coberta por um pano, ninguém imagina que está lá dentro. Quem sabe seja um gatinho, pensa o estudante que passa pela rua e encontra a caixa. Mas um braço se deixa mostrar – é o bracinho de Aurora. E o estudante descobre um bebê, um recém-nascido ainda com cordão umbilical.

Ora, o estudante é apenas um estudante de 20 anos, não tem os próprios filhos, não tem experiência de vida, e por isso não sabe exatamente o que fazer com aquela criança que ele pensou que fosse um gatinho. Mas há por perto uma mulher, uma mãe, alguém que leva Aurora para casa, coloca roupinhas novas nela e em seguida acompanha o estudante até uma delegacia. De lá parte uma viatura dos bombeiros e a recém-nascida é levada de volta para um hospital, onde é submetida a uma série de exames e recebe o seu nome de batismo.

Que, deixe-se claro, não é o mesmo escolhido pelo estudante. Para ele, a menina se chamaria Karen – o estudante queria fazer algum tipo de homenagem ao pai, que é de origem austríaca (o estudante não sabe que Karen é de origem escandinava). Mas Karen não é um nome que se dê a um neném encontrado em uma caixa de papelão, por mais que signifique “pura” ou “casta” – é muito mais adequado chamá-lo de Aurora. E, também, o estudante foi apenas a pessoa que encontrou a menina, não pode sair batizando assim quem bem entender. Que faça a homenagem em sua própria filha, parece dizer o hospital.

Não é todo dia que se encontra um recém-nascido, e por isso o estudante nem sabe o que dizer quando perguntam como se sente. Tem apenas uma convicção: a de que é preciso manter contato com Aurora depois de tudo isso. No abandono daquela criança, não desejada, não programada, um rapazinho descobriu os seus próprios desejos de pai.

 

Brecht que me perdoe

Brecht que me perdoe, mas o pior analfabeto é o analfabeto poético: ele não vê, não sente, não se dá conta da vida ao seu redor. Ele não sabe quando os ipês amarelos começam a florir, o dia em que haverá superlua, o instante em que um afeto se transforma em amor. O analfabeto poético se orgulha e estufa o peito dizendo que não tem tempo para essas coisas. Não sabe que, da sua ignorância poética, nasce a frieza, a ingratidão e, o pior de tudo, a falta de vínculos com o resto da humanidade.

 

Que decepção!

“Que decepção!”, dizemos nós, quando o nosso candidato declara apoio a alguém que nós mesmos não apoiamos, quando o nosso colunista preferido defende uma posição contrária à nossa, quando uma pessoa de quem gostamos muito diverge da gente sobre um ponto importante. Disso a “vou parar de te seguir” é um passo, porque não conseguimos admitir que uma pessoa a quem entregamos a nossa admiração seja capaz de discordar da gente. Exigimos alguém que nos represente em tudo. No fundo, o que queremos é alguém a quem idolatrar irrestritamente. Esse alguém ou não existe ou é Deus.



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