Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Em setembro de 2004, depois de ler um artigo na Revista Seleções, eu me interessei em conhecer a minha árvore genealógica. Na ocasião, eu não sabia nem ao menos o nome dos meus bisavôs. Baixei então um programinha, cadastrei o pouco que sabia, perguntei à minha família o que eles sabiam e, aos poucos, a árvore foi crescendo (e recuando). Depois comecei a ir às secretarias paroquiais das igrejas atrás dos registros de batismo, casamento e óbito dos meus ancestrais. Ali eu já começava a descobrir coisas que nem os meus avós sabiam sobre a família deles. Fui encontrando também outras pessoas que também pesquisavam e assim a brincadeira foi continuando, depois bastante facilitada pelo trabalho dos mórmons em disponibilizar on line registros do mundo inteiro.
Dez anos depois, eu já descobri antepassados que chegam, em alguns ramos, a 20ª geração (lá pelo século XIV). E o mais legal é que não acaba nunca, sempre há mais para descobrir, e há alguns dias mesmo eu consegui garimpar mais alguns ancestrais. São pessoas que moravam em São Bento do Sul, em Campo Alegre, em Piên e, recuando mais, na Boêmia (atual República Tcheca), na Baviera, na Pomerânia, na Prússia Ocidental, em São José dos Pinhais/, em Curitiba, em São Paulo, em Portugal, nos Açores, na Espanha, na Itália e (recuando mais ainda) até nos Países Baixos. Isso sem falar de uma porção de cidades que eu nunca imaginei que tivesse ancestrais, como Niterói, Sorocaba, Lages ou Biguaçu.
Felizmente, tenho uma árvore muito sortida, de brasileiros e imigrantes, católicos e evangélicos (nos anos 1600 há um ramo judeu) de diferentes partes do mundo. Nessas pesquisas todas, descobri até mesmo que tenho um pouco de sangue indígena, pois sou descendente de índios carijós aprisionados pelos primeiros moradores brancos de Curitiba (a propósito, também descendo, e várias vezes, do capitão-povoador de Curitiba, o Matheus Leme).
Fiz algumas descobertas curiosas também, como a de que os meus avôs maternos são parentes entre eles mais de 100 vezes (graças aos casamentos entre primos em gerações passadas). E também a de que tenho pelo menos meia dúzia de antepassados que foram “expostos”, ou seja, abandonados ao nascer na casa de alguém, coisa que acontecia com muita frequência no Brasil colonial, chegando a 10% dos batizados em Curitiba. Graças a essas pesquisas também soube que sou um primo distante de nomes como Carlos Drummond de Andrade, Tom Jobim, Chico Buarque ou o Frei Galvão.
Não é um hobby, é algo maior do que isso para mim – se pudesse, eu ganhava a vida com essas pesquisas. Tem um pouco de curiosidade, mas também um certo sentido de justiça, gratidão e um obstinado desejo de eternidade. Aos poucos, eu estendi o meu interesse para famílias que não são as minhas e comecei a pesquisar a genealogia dos outros, remontando grupos familiares principalmente de São Bento do Sul, Campo Alegre e São José dos Pinhais. Já fiz um livro sobre a família Zipperer, tenho em construção um da família Fragoso, outro da “Genealogia Boêmia de São Bento do Sul” e ainda um da “Genealogia de São José dos Pinhais”.
De modo que esses últimos dez anos foram, de fato, bastante divertidos.