Jornal Evolução Notícias de Santa Catarina
Facebook Jornal Evolução       (47) 99660-9995       Whatsapp Jornal Evolução (47) 99660-9995       E-mail

Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


Veja mais colunas de Henrique Fendrich

De reinos e princesas

Terça, 19 de agosto de 2014

 

No nordeste da África, mais precisamente na fronteira entre o Egito e o Sudão, fica uma área desértica e montanhosa de aproximadamente 2 mil quilômetros quadrados chamada Bir Tawil. É uma região pobre em recursos naturais e isso justifica que, até o mês passado, ninguém tenha reivindicado a sua posse. Foi quando um americano da Virgínia fincou uma bandeira no local – uma bandeira desenhada por seus filhos, cheia de estrelas, raios de sol e uma coroa. Com esse gesto, ele anunciava ao mundo: “Uma nova nação foi fundada. Reconheçam-na”. E, como os ideais republicanos do Ocidente não satisfaziam as aspirações desta nova nação, proclamou para ela o regime monárquico – único até o momento capaz de suscitar princesas. Tendo ele uma filha de 7 anos que não deseja outra coisa da vida, o homem não teve dúvidas: fez-se rei, fê-la princesa.

A pequena agora não anda sem uma coroa na cabeça e o pai recomenda a todos os amigos que a chamem como convém, ou seja, com o título de princesa. Não se trata de faz de conta: há planos para que o reino prospere e a princesa já declarou ser favorável a que ele se transforme em um centro agrícola. É preciso ainda algumas formalidades, como o reconhecimento das nações vizinhas, mas isso não impede que a menina já se sinta uma princesa e considere a nova condição “muito legal”.

Assim dizem as agências de notícias e, afora um ou outro encantamento pelo gesto do pai (capaz de vasculhar o mundo atrás de uma terra de ninguém apenas para satisfazer o sonho da filha), o que mais se ouviu foram críticas a uma sociedade em que as meninas ainda têm como ideal se tornar princesas. Pensei no que faria eu se um dia Talita me pedisse coisa semelhante. Certamente não teria disposição para tamanha empreitada, mas é possível que, pelo menos no início, eu desse um jeito para que ela se sentisse um pouco princesa também – para desgosto dos educadores. Acho que eu não seria um bom pai. Mas, por sorte, Talita ainda nem nasceu.

 

No fim, a gente se vira

Sai de casa aos 22 anos – cedo, se pensarmos que, segundo o IBGE, quase 25% dos jovens entre 25 e 34 anos ainda moram na casa dos pais. E mais cedo ainda se pensarmos que eu não estava preparado para isso e tive que aprender tudo às pressas. Primeiro, tive que encontrar um lugar para morar. Arrastei-me em casas alheias antes de ter o meu quartinho. Era pequeno, mas estava sob a minha responsabilidade. Significava que caberia a mim limpá-lo e consertar o que estragasse. Ainda não levo jeito para isso, mas de alguma maneira tenho mantido o meu quarto habitável.

Não sei cozinhar – e não tenho onde cozinhar – mas até hoje tenho me alimentado todos os dias. A princípio com muita porcaria e em intervalos irregulares, mas depois aprendi a comer melhor. Já consigo selecionar no supermercado aquilo que presta. Comecei a comparar o preço dos produtos – afinal, preciso organizar o meu dinheiro de maneira que ele não falte no fim do mês, e por enquanto tenho conseguido.

Hoje eu sou o maior responsável por aquilo que acontece na minha vida. Não espero que nenhum desses que ainda vive com os pais se atire sozinho em uma cidade desconhecida, mas deixo o meu testemunho: no fim, a gente se vira.



Comente






Conteúdo relacionado





Inicial  |  Parceiros  |  Notícias  |  Colunistas  |  Sobre nós  |  Contato  | 

Contato
Fone: (47) 99660-9995
Celular / Whatsapp: (47) 99660-9995
E-mail: paskibagmail.com



© Copyright 2025 - Jornal Evolução Notícias de Santa Catarina
by SAMUCA