Não sei em quem votar

Nunca fui entrevistado por nenhum instituto de pesquisa sobre a minha intenção de voto – e com razão, porque não creio que eu tivesse grande coisa a acrescentar. Isto é, eu me mostraria indeciso diante da maior parte das perguntas, e se tem uma coisa que não toleramos é a indecisão – lidamos melhor com quem erra, cerra categoricamente, mas erra com convicção.

Ora, ainda estamos no começo de agosto e, embora a campanha eleitoral já tenha começado nas ruas, ainda não teve início nos meios de comunicação. Disso resulta que a maioria dos candidatos à presidente ainda não são conhecidos do eleitor – é verdade mesmo: eu me incluo entre os que não conhecem todos os 11 candidatos. “Ah, mas só quem têm chance são dois ou três”. Ouço isso com uma insistência irritante e concluo que sou um dos dois ou três que não escolhem candidato pela chance de ganhar. Pois bem: se eu nem ao menos conheço todos os candidatos, é natural que eu também não faça a menor ideia do que eles propõem ao país. Diante de tamanha ignorância, eu dificilmente teria condições de responder satisfatoriamente uma pesquisa sobre intenção de voto.

Nem por isso deixo de admirar quem é capaz de decidir em quem votar pela simples menção ao seu nome. Em pesquisa recente, 54% dos entrevistados não sabia em quem votar antes que lhes dissessem quem são os candidatos. Quanto isso aconteceu, este número caiu para 14%. Ou seja, 40% decidiu em quem votar durante a pesquisa, e Deus sabe sob quais critérios de avaliação. E, caso perguntassem também se a escolha é definitiva, é bem provável que muito deles dissessem que sim.

Seria bom verificar direito isso daí, porque, se já está tudo decidido e todo mundo já sabe em quem votar, a gente não precisaria perder tanto tempo com as campanhas – que, de resto, têm mesmo pouca coisa a acrescentar. Em todo caso, fica aqui a minha simpatia por aqueles que, não se achando ainda em condições de escolher um candidato, ousam responder com um corajoso “não sei”.

A nossa aprovação

Imagineis que tenhamos encontrado um lugar onde não exista nenhum tipo de injustiça, onde a distribuição de renda seja equilibrada e não existam pobres. Onde os serviços públicos sejam oferecidos com eficiência, os doentes sejam tratados de forma digna, os problemas de trânsito tenham sido resolvidos e o transporte coletivo funciona de maneira exemplar. Onde todos têm exatamente o tipo de emprego que gostariam de ter. Onde os índices de criminalidade são irrisórios. Onde não há nenhum tipo de censura. Onde não há divisões ou preconceitos. Onde crianças, idosos e deficientes têm os seus direitos respeitados. Onde os políticos são reconhecidos pela honestidade. Onde a cultura é prestigiada pelos governantes. Onde o meio ambiente é preservado. Onde os avanços da ciência permitem uma vida longa e com qualidade. Sobretudo, onde as pessoas são felizes e vivem em harmonia umas com as outras. Imagineis que tenhamos encontrado um lugar assim.

Por melhor que tudo isso nos pareça em um primeiro momento, ainda não será suficiente para que nos congratulemos com essas conquistas. A nossa aprovação dependerá da resposta a uma questão fundamental:

- O governo desse lugar é de esquerda ou de direita?