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Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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Bom mesmo era a ditadura

Quinta, 10 de abril de 2014

Diz o relato bíblico que o povo hebreu sofreu todo tipo de aflição nas mãos dos egípcios. Isso porque es­tavam se multiplicando e havia o medo de que se tor­nassem poderosos demais. Tiveram então que amargar uma vida com dura servidão, trabalhando em meio a barros e tijolos, além das atividades no campo e todo tipo de serviço que os egípcios os obrigassem a fazer. Havia até mesmo ordem para lançar no rio os filhos homens dos hebreus. Cansados, eles suspiraram e seu clamor subiu a Deus, que prometeu tirá-los da terra da aflição e levá-los para a que mana leite e mel.

Sob a liderança de Moisés, foram pedir a Faraó que os deixasse ir ao deserto oferecer sacrifícios. Faraó achou que os hebreus estavam com muita falta do que fazer e deu mais trabalho para eles. Agora eles já não davam conta de todas as tarefas e passaram a ser açoitados. E Deus continuava prometendo que iria tirá-los debaixo das cargas dos egípcios e livrá-los da servidão. Veio então o episódio das pragas, mandadas ao Egito toda vez que Faraó impedia a partida deles, até que finalmente o povo hebreu se pôs a caminho da Terra Prometida.

Nesse trajeto, encontraram um rio de água amarga e murmuraram contra Moisés: que havemos de beber? Mais alguns dias, veio a fome e eles disseram: “Quem dera tivéssemos morrido no Egito. Lá comíamos pão até fartar. Porque nos trouxe a esse deserto? Para ma­tar de fome toda essa multidão?”. Discurso semelhan­te fizeram quando sentiram sede: “Por que nos fizeste subir do Egito? Para nos matar de sede, a nós, a nossos filhos e ao nosso gado?”. E não faltou muito para que apedrejassem Moisés.

Diziam isso porque, ao contrário do esperado, a simples saída do Egito não havia acabado com todos os seus problemas. Ninguém ali estava vendo as bên­çãos que foram prometidas. Como elas não vieram de forma imediata, sentiam saudades do tempo em que sofriam na mão dos egípcios e então cogitavam voltar atrás. Bons tempos aqueles em que Faraó nos escra­vizava!

 

Deixemos para a última hora

Ainda em fevereiro do ano passado – há mais de um ano! – começou uma campanha do TRE para que os eleitores do Distrito Federal fizessem o seu reca­dastramento biométrico. Os anúncios eram bastante ameaçadores e insinuavam terríveis consequências para aqueles que não fizessem. Também recomenda­vam que ninguém deixasse para a última hora. Mas não avisavam quando seria essa última hora, certa­mente para que o sujeito achasse que o prazo estava acabando e corresse para o posto de atendimento mais próximo.

Tivesse deixado para a última hora, eu teria a como­didade de me recadastrar pertinho do meu trabalho, pois um posto do TRE foi aberto especialmente para facilitar a vida de quem estava atrasado. Plantões e ho­rários especiais foram feitos para garantir que aqueles que tiveram 13 meses para se recadastrar não ficasse de fora.

Terminado o prazo, o TRE avisou que era primeiro de abril, pois dará uma nova chance aos atrasados da­qui a duas semanas. Porque todos sabem que não dá para ser assim tão rigoroso com esse negócio de pra­zos. Não faz parte da nossa cultura. E no fim tudo dá certo mesmo, se não deu é porque ainda não é o fim. Deixemos para a última hora e simplesmente confie­mos.



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