Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Diz o relato bíblico que o povo hebreu sofreu todo tipo de aflição nas mãos dos egípcios. Isso porque estavam se multiplicando e havia o medo de que se tornassem poderosos demais. Tiveram então que amargar uma vida com dura servidão, trabalhando em meio a barros e tijolos, além das atividades no campo e todo tipo de serviço que os egípcios os obrigassem a fazer. Havia até mesmo ordem para lançar no rio os filhos homens dos hebreus. Cansados, eles suspiraram e seu clamor subiu a Deus, que prometeu tirá-los da terra da aflição e levá-los para a que mana leite e mel.
Sob a liderança de Moisés, foram pedir a Faraó que os deixasse ir ao deserto oferecer sacrifícios. Faraó achou que os hebreus estavam com muita falta do que fazer e deu mais trabalho para eles. Agora eles já não davam conta de todas as tarefas e passaram a ser açoitados. E Deus continuava prometendo que iria tirá-los debaixo das cargas dos egípcios e livrá-los da servidão. Veio então o episódio das pragas, mandadas ao Egito toda vez que Faraó impedia a partida deles, até que finalmente o povo hebreu se pôs a caminho da Terra Prometida.
Nesse trajeto, encontraram um rio de água amarga e murmuraram contra Moisés: que havemos de beber? Mais alguns dias, veio a fome e eles disseram: “Quem dera tivéssemos morrido no Egito. Lá comíamos pão até fartar. Porque nos trouxe a esse deserto? Para matar de fome toda essa multidão?”. Discurso semelhante fizeram quando sentiram sede: “Por que nos fizeste subir do Egito? Para nos matar de sede, a nós, a nossos filhos e ao nosso gado?”. E não faltou muito para que apedrejassem Moisés.
Diziam isso porque, ao contrário do esperado, a simples saída do Egito não havia acabado com todos os seus problemas. Ninguém ali estava vendo as bênçãos que foram prometidas. Como elas não vieram de forma imediata, sentiam saudades do tempo em que sofriam na mão dos egípcios e então cogitavam voltar atrás. Bons tempos aqueles em que Faraó nos escravizava!
Deixemos para a última hora
Ainda em fevereiro do ano passado – há mais de um ano! – começou uma campanha do TRE para que os eleitores do Distrito Federal fizessem o seu recadastramento biométrico. Os anúncios eram bastante ameaçadores e insinuavam terríveis consequências para aqueles que não fizessem. Também recomendavam que ninguém deixasse para a última hora. Mas não avisavam quando seria essa última hora, certamente para que o sujeito achasse que o prazo estava acabando e corresse para o posto de atendimento mais próximo.
Tivesse deixado para a última hora, eu teria a comodidade de me recadastrar pertinho do meu trabalho, pois um posto do TRE foi aberto especialmente para facilitar a vida de quem estava atrasado. Plantões e horários especiais foram feitos para garantir que aqueles que tiveram 13 meses para se recadastrar não ficasse de fora.
Terminado o prazo, o TRE avisou que era primeiro de abril, pois dará uma nova chance aos atrasados daqui a duas semanas. Porque todos sabem que não dá para ser assim tão rigoroso com esse negócio de prazos. Não faz parte da nossa cultura. E no fim tudo dá certo mesmo, se não deu é porque ainda não é o fim. Deixemos para a última hora e simplesmente confiemos.