Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Olhando a programação do aniversário de São Bento do Sul para este ano, percebo que está incluída a inauguração de um monumento na Praça Getúlio Vargas em alusão ao seu título aquisitivo (imagino que se trate de quando a prefeitura comprou o espaço da praça). Sem entrar no mérito desta homenagem, que pode realmente ter o seu valor, parece certo que há um exagero na quantidade de monumentos existentes na praça, ou pelo menos nos motivos que levam alguém a querer erigir um nela.
Ao mesmo tempo, o monumento ao imigrante, cuja existência é lembrada uma vez a cada ano, não conta sequer com o nome dos 70 imigrantes pioneiros, aqueles que subiram a Serra Dona Francisca e foram os primeiros a receber lotes coloniais naquela que se transformaria na cidade de São Bento do Sul. Estes 70 imigrantes não são desconhecidos. Alexandre Pfeiffer listou-os um a um, traçando a nacionalidade e os navios em que cada um veio ao Brasil. Obviamente não foram os únicos imigrantes da cidade, mas, por serem os primeiros, são representativos e dignos da homenagem feita justamente no 23 de setembro, dia em que eles mesmos receberam os seus lotes. Além de se fazer justiça e favorecer o conhecimento histórico da cidade, a citação nominal desses pioneiros, ao menos no monumento, evitaria uma homenagem muitas vezes genérica e abstrata.
Mas a verdadeira homenagem ao imigrante de São Bento ainda não tem data para acontecer, e será apenas quando alguém importante se der conta que não faz sentido manter o nome de Getúlio Vargas para o lugar mais significativo da nossa história, praticamente o marco zero da cidade. O nome de Getúlio foi escolhido por motivos políticos nos anos 40, como também já havia sido João Pessoa, em substituição ao que um dia já foi chamado em alemão de “Jardim do Imigrante” e variações. Parece sensato que se dê motivações históricas para os nomes dos nossos lugares históricos, e portanto seria bastante agradável se houvesse uma homenagem prática ao imigrante de São Bento, tornando a dar a ele o nome da praça. Getúlio Vargas não vai se aborrecer, pois já tem um logradouro em cada cidade brasileira, e segundo me consta não tem motivo algum para preferir São Bento em relação às outras. “Jardim do Imigrante” é, além de historicamente coerente, um nome muito mais simpático.
Também é preciso destacar que nem só de imigrantes foi feita a colonização de São Bento do Sul. Os brasileiros já habitavam a região antes de 1873, alguns deles serviram de tropeiros para os imigrantes, e desde o começo estiveram participando da formação de São Bento. No “Jardim do Imigrante” ideal também haveria pelo menos um monumento ao caboclo brasileiro. O que na verdade seria pouco, podendo muito bem existir pela cidade alguma “Praça João Filgueiras de Camargo”, por exemplo. Esses brasileiros nunca foram devidamente estudados, e por isso não são conhecidos e tampouco lembrados no aniversário de São Bento do Sul. Ao contrário do que se pensa, o numero de brasileiros na cidade era muito grande, quase equilibrado com o de imigrantes. Verdade que não habitavam o centro, mas nem só de um centro é feita uma cidade, e nem só dele cabe recuperar o passado.