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Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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Otto vê o Brasil campeão

Terça, 09 de julho de 2013


No último domingo estive na casa do Otto, o Bismarck das Araucárias. Vocês conhecem o sujeito: é o mais alemão dos são-bentenses. Só não digo mais que é alemão de quatro costados porque descobrimos que tem uma bisavó brasileira, moradora de Campo Alegre, e mais paranaense do que o fandango. Pois bem. Fui à casa do Otto porque ele me convidou para assistir a final da Copa das Confederações. Acho que nunca disse que o Otto gosta de futebol. Gosta de futebol. E, para o meu espanto, torce para o Brasil – a menos que enfrente a Alemanha. Mas o jogo era contra a Espanha, país que não lhe fede nem cheira. E o Otto chegou ao ponto de vestir a camisa de seleção. “O gigante acordou”, confessou, para o meu pasmo. A onda de protestos no Brasil revelou um insuspeito lado brasileiro no Otto. Talvez tenha sido a oportunidade que faltava para virarmos mais um estado germânico.

Acomodamo-nos no sofá e, depois da minha tradicional recusa à bebida, começamos a assistir. Assim como eu, Otto se entusiasmou com a partida arrasadora feita pelo Brasil. Falou que o Paulinho era o novo Beckenbauer. E que o Neymar lembrava bastante aquele moço com família em Blumenau, o Friedenreich. Só se traiu mesmo quando disse que estava virando moda bater em espanhol, certamente aludindo às vitórias do Bayern e do Borussia.

A partida já estava perto do fim quando entrou na sala o Otto, o filho do Otto.  Vocês também conhecem a peça: é o homem sem passado, que arranca a folha da agenda a cada dia que passa. Pois o Otto estava vindo de um protesto. Encontrou-nos ali sentados, torcendo pela Seleção, olhou com desprezo e sentenciou: “Como podem ficar na frente da TV enquanto o Brasil está mudando? O futebol é o ópio do povo”. Ele parafraseou Marx, que é o ópio do Otto. Pois bem. Pai e filho começaram a discutir. Otto, o filho, disse que era uma vergonha não estarmos protestando, e que não tínhamos nada o que comemorar, pois ainda há corrupção no Brasil, ainda faltam investimentos na Saúde e na Educação, o Feliciano ainda está na Comissão de Direitos Humanos, e há muitas outras PECs pra derrubar.

Eu já me sentia um traidor da pátria quando entrou a namorada do Otto – essa vocês não conhecem. Chama-se Anita, a nossa heroína. Mais revolucionária que a Holanda de 74.  Por educação, ela não se meteu na discussão de pai e filho. Foi puxar assunto comigo. E o jogo ainda rolando. Foi quando ela insinuou: “Vitória estranha essa, hein? Aí tem coisa”. Respondi que realmente era estranho, pois até o Hulk havia jogado bem, mas então ela disse o que pensava: a partida havia sido comprada. Disse que eu era muito ingênuo de acreditar que a Espanha iria perder tão fácil assim. E que provavelmente foi a dona Dilma que fez o negócio, pro povo se esquecer dos protestos.

Entendi tudo então: assim como há os caçadores de mitos e de fantasmas, também há os caçadores de teorias da conspiração. Anita era um deles.  Há gente que não masca um chiclete sem questionar as reais motivações da indústria chicleteira. Não faltou muito para eu me convencer que a minha própria visita ao Otto era obra de forças ocultas. Na dúvida, fui embora. Sem comemorar, porque pega mal.



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