Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Livro revê história dos Zipperer
Lancei há alguns dias, pelo Clube de Autores, o livro “O Imigrante Anton Zipperer - 200 Anos de Nascimento (1813-2013). Muita coisa já se escreveu sobre os Zipperer, e isso inclui alguns equívocos. A recente disponibilização online dos registros paroquiais boêmios permitiu desfazer grande parte desses equívocos, e com isso reescrever a história da família de forma mais precisa.
Um dos maiores equívocos referia-se ao pai do imigrante Anton Zipperer. O escritor bávaro Josef Blau, em sua obra “Baiern in Brasilien”, afirma que o pai de Anton se chamava Adam Zipperer. Desde então essa informação tem sido repetida em diversas fontes. Agora já se sabe que não só Anton não era filho desse Adam Zipperer como parece nunca ter existido alguém com esse nome em época compatível naquela região.
Blau, que contou com a ajuda de Jorge e Martim Zipperer, citou toda uma sequência de antepassados para a família, mas que não encontra correspondência possível com aquilo que pude apurar nos registros europeus. Aparentemente, ele não chegou a consultar esses documentos. Jorge Zipperer sabidamente não os consultou, pois assim revelou em uma correspondência. Esses registros foram agora consultados e, neste novo livro, a genealogia da família foi então revista.
Anton Zipperer foi um dos 70 imigrantes pioneiros de São Bento. Embarcou ao Brasil com 60 anos, embora declarasse ter 47. Era mais do que seu pai e seu avô viveram. Com ele também veio a família de Georg Zipperer, que, hoje sabemos, era seu primo. A decisão de imigrar visava principalmente os seus descendentes, a quem esperavam deixar um futuro melhor, sem a exploração de que eram vítimas na Europa.
O livro resgata detalhes dessa história, confrontando informações conhecidas com descobertas recentes. No final há uma genealogia com cerca de 100 páginas. O Clube de Autores, que facilita bastante a vida do escritor, vende seus livros apenas pela internet, tanto em formato impresso como virtual.
A história de São Bento por escrever
Já disse outras vezes que muitas novas descobertas sobre o passado de São Bento do Sul têm sido possíveis. Temos as anotações do viajante Hugo Zöller, os diários de Raymond Wöhl, o acesso on line dos livros do cartório e da igreja de São Bento (incrivelmente, quase nunca utilizados pelos historiadores) e, há pouco tempo, dos livros paroquiais da Boêmia, terra de onde veio parcela significativa dos imigrantes. Há fartura de documentos, mas não de historiadores.
Existe uma infinidade de temas importantes que nunca foram abordados com a devida atenção pela historiografia local. A enorme presença de brasileiros, mesmo antes dos imigrantes, sempre foi abordada de forma superficial (ou mesmo parcial). A escravidão na cidade sempre foi negada, ao contrário do que os documentos mostram. Temas riquíssimos como os agitados anos de 1897 e 1898 mal chegaram a ser lembrados. Até mesmo os primórdios da música nunca foram devidamente explorados. Que dirá do teatro, esse sim totalmente esquecido.
Não parece ser nenhum exagero dizer que grande parte da história de São Bento, ao contrário do que se pensa, ainda não foi escrita, e portanto não é conhecida.