Turista é um bicho engraçado

Turista é o bicho mais engraçado que tem. Sábado agora eu me deixei ser confundido por um deles aqui em Brasília. Caminhei a pé da Biblioteca Nacional (como dói repetir: é uma biblioteca sem livros) até o Congresso Nacional, passando por toda a Esplanada dos Ministérios. Tinha como objetivo tirar uma foto específica que pretendia usar em um trabalho. E para lá me dirigi, à tardezinha, pelas cinco da tarde, quando o sol de Brasília começa a ficar um pouco mais tolerável. Quando cheguei, a área já estava povoada de turistas. Eles tomavam conta do gramado em frente ao Congresso, com suas indispensáveis máquinas fotográficas, e alguns, mais afortunados, com os seus tablets. Mas também havia por lá famílias bem brasilienses que se divertiam descendo os morros laterais em cima de papelões.

Ainda não me aproximei totalmente do Congresso quando um rapaz da minha idade me pergunta se eu não posso tirar uma foto para ele. Eu tiro, mas devo ter tirado mal, porque ele pede outra. Nunca fui fotógrafo, mas a facilidade que pessoas como eu tem hoje para tirar fotografias me ilude, e por um instante tenho a impressão de que também eu posso conseguir resultados semelhantes aos dos profissionais. Muita gente pensa coisa parecida da literatura, do jornalismo – pois não é só escrever? Escrever todo mundo escreve. E nessa ilusão eu vou tirando as minhas fotos, desatento às técnicas e equipamentos.

Chego agora até a rampa que existe diante das duas torres do Congresso. É o lugar preferido para os turistas tirarem fotos, e eles já estão lá aos montes. Acho engraçado como não prestam atenção em nada. Quero dizer, ninguém para e observa as torres, mas apenas se postam diante delas e esperam que alguém os fotografe. Depois, se alguém perguntar um detalhe específico da arquitetura do Congresso, elas não vão saber dizer, pois estavam bastante ocupadas deixando para a eternidade uma prova de que lá estiveram. Mostrar a foto, eis a motivação maior. E como têm pressa esses turistas! Estão sempre correndo, precisando conhecer (conhecer?) mais lugares, registrarem tantas provas quanto possível.

A foto que quero tirar é justamente diante dessa rampa. Espero pacientemente que os turistas diminuam. Um casal de namorados pede que eu lhes tire uma foto. O sol atrapalha, a minha sombra aparece na foto deles. Perguntam se eu quero que tirem uma minha também. Digo que não, não precisa. Não tenho foto minha no Congresso, nem acho que precisa. Sei lá, todo mundo tem foto ali na frente. Admiro gente como o Henfil, que conseguiu ficar duas semanas na China sem ver a Muralha.

Pois bem. Eu tirei algumas fotos enquanto ainda havia o sol e depois sentei e fiquei observando toda aquela movimentação. O sol foi diminuindo, diminuindo, até que desapareceu de vez. Os turistas ainda estavam lá e faziam todas as combinações de fotos possíveis (marido e mulher, marido e filha, marido e filho, mulher e filha, mulher e filho, marido, mulher e filho, marido, mulher e filha, filho e filha). É ou não é um bicho engraçado?

E depois fui voltando devagarzinho toda a Esplanada, no meio do gramadão mesmo, de vez em quando me voltando e tirando outra foto, só pra dizer, como quem sabe.