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Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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Parada de ônibus

Segunda, 11 de março de 2013

 

Eu voltava de um dia triste, e carregando três ou quatro sacolas de mercado. Na parada de ônibus, um rapaz faz a abordagem. Pergunta se eu por acaso não teria R$ 0,50 para ajudar a pagar a sua passagem de R$ 3,00. Eu tenho, e não hesito em procurar no meu bolso. Um dia eu já me vi numa situação semelhante, precisando desesperadamente de dinheiro para a passagem e não encontrando ninguém que me ajudasse. Desde então passei a entregar sempre alguns trocados aos que me pedem na parada do ônibus.

Não questiono a motivação do sujeito e nem mesmo me preocupo em avaliar a sua sinceridade. Vá lá que ele não use o dinheiro para o ônibus, que vá comprar bebida ou outra coisa parecida. Mas e se ele estiver falando a verdade, como eu estive? Embora eu falasse a verdade e não tivesse exatamente a aparência de um cachaceiro, todos a quem pedi umas moedinhas viraram a cara e nem se dignaram a ouvir meu pedido. Todo mundo havia feito rapidamente um juízo de valor e concluído que quem pede dinheiro para a passagem está mentindo. Como existe a possibilidade da verdade, eu ajudo.

Certa vez eu ajudei um homem cabeludo, cheio de tatuagens, que dizia estar com um bolso rasgado. De lá teriam caído moedas que o impediam de pagar o ônibus e, em consequência, de chegar a uma entrevista de emprego ou algo que o valha. Parecia realmente desesperado. Dei o dinheiro que faltava, e ele agradeceu exageradamente, mal acreditando que alguém tenha sido capaz de ajudá-lo dessa maneira. Alguns dias depois, voltei a encontrá-lo na mesma parada e pegamos o mesmo ônibus. Quis então pagar a minha passagem, em retribuição, mas me adiantei e passei pela roleta antes dele.

 

Vontades de homicídio e suicídio

E eu ainda pensava em casos assim quando outro rapaz se aproximou de algumas mulheres que estavam sentadas na parada – aliás, a mesma parada em que o índio pataxó foi queimado vivo há alguns anos por acharem que era mendigo. Pois aquele rapaz que se aproximou começou então uma espécie de discurso, do qual entendi pouca coisa, pois ele falava mal. Dizia algo relacionado a “problema emocional”, uma coisa que ele não sabia o nome, mas que tinha sido diagnosticado. Entendi ainda a palavra “Marinha”, e algo parecido com “estar afastado” devido ao crack. Por fim, ouvi alguma coisa sobre estar sofrendo por ter “vontades de homicídio e suicídio”. E logo saiu, não pedindo dinheiro algum, tão repentinamente como apareceu, e tratou de atravessar a rua.

Afastado o homem, as mulheres da parada enfim soltaram o riso. Uma delas se lembrou de outros casos recentes de loucos, como ela diz, que vieram puxar papo com ela em paradas de ônibus. Brincou que estavam achando que ela tinha cara de psicóloga. E continuaram rindo e comentando sobre aquele maluco que havia tornado mais divertida a espera pelo ônibus. Uma delas observou:

- Você ouviu? “Vontades de homicídio e suicídio”. Se for de suicídio, tudo bem...

Eu, que já andava meio triste, fiquei enojado com aquelas mulheres, e não faltou muito para que eu explodisse numa patética defesa do louco. Em vez disso, apenas me virei para a rua, observando se o próximo ônibus que se aproximava não era por acaso o meu.



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