Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Ainda estamos no chão, mas em movimento, vivendo aqueles demorados instantes em que o avião se dirige à pista de decolagem. Há cada vez mais pessoas querendo partir, e por isso precisamos esperar a nossa vez. Enquanto isso, distraímo-nos assistindo a televisão, pois também aqui elas chegaram, e já não há mais muito lugar onde uma pessoa se obrigue a pensar na própria vida. Mas o comandante nos avisa que a decolagem foi autorizada, e então todos nós voltamos a prestar atenção no avião, e creio que alguns até mesmo suspendem a respiração enquanto aceleramos loucamente rumo aos ares.
Estou sentado à janela e sinto o exato momento em que deixamos de tocar o solo. Hesito, mas por fim olho para fora e vejo a cidade se afastar. Tudo ocorreu perfeitamente. Súbito, o piloto resolve fazer uma curva no ar – estávamos na direção errada. Já andei várias vezes de avião, mas ainda não me acostumei com a sensação de voar inclinado, como acontece durante as curvas, e talvez por isso eu tente sempre compensar o desconforto inclinando meu próprio corpo para o lado oposto – que vem a ser o do passageiro ao meu lado, o que exige certo cuidado. Mas tudo indica que meu esforço funciona, pois logo o avião volta a voar em linha relativamente reta.