Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
2013 é um ano de centenários – Rubem Braga, Vinícius de Moraes, o bondinho do Pão de Açúcar... E também São Bento tem os seus próprios centenários. A começar pelo da Banda Treml. A iniciativa de João Treml, herança de Jorge Zipperer, provavelmente será bastante celebrada ao longo do ano. Existe, no entanto, outro centenário a ser comemorado na cidade, e eu receio que não será aproveitado e talvez nem mesmo seja percebido.
Não é mentira: no dia 1º de abril de 1913, pela primeira vez um trem chegou a São Bento do Sul. Foi a inauguração da estrada de ferro na cidade. O trem vinha da antiga Hansa, hoje Corupá, e dali a alguns dias começaria a operar regularmente uma linha entre as duas cidades. Havia as estações de Rio Natal, Rio Vermelho e Serra Alta. Em outubro daquele mesmo 1913, seria inaugurada a estação de Rio Negrinho. E com as evoluções dos anos seguintes, a ferrovia continuaria até Porto União.
Bolas, é um centenário interessante pelo fato histórico em si, mas poderia ser ainda mais interessante pelo seguinte: seria o momento mais oportuno para iniciar uma restauração dessas estações. Sei que não é tão simples, e tenho aqui dois recortes de jornais do ano passado em que todo mundo se justifica explicando por que é que, até agora, ninguém deu início a qualquer restauração e nem mesmo há previsão de que isso venha a acontecer algum dia. Falam em obstáculos com a União e com a concessionária da linha. Nada sei. Tudo o que sei é que existe uma data histórica a acontecer, e que, vergonhosamente, passará em branco, porque, ao longo de décadas e sucessivos governos, ninguém conseguiu resolver.
E não estou falando apenas da Estação de Serra Alta, para a qual até existem alguns projetos - embora até agora sejam apenas isso: projetos. Também é lastimável o estado de conservação da Estação de Rio Natal, e não me parece, até agora, que alguém tenha mostrado disposição suficiente para vencer todo tipo de imbróglio e conseguir que também ela seja devidamente restaurada. Às vezes é preciso lembrar que Rio Natal também faz parte de São Bento do Sul.
Estive em São Bento no final do ano e notei duas coisas curiosas: existe uma placa na rua Felipe Schmidt indicando a direção da estação ferroviária de Serra Alta. Imaginem que, por acaso, um turista decida segui-la. Não me parece muito atrativo visitar um abrigo noturno, um ponto de vandalismo.
Também percebi que naquele curioso monumento em formato de clave de sol na praça existe um trem. Um trem! Dá até para pensar que estamos em uma cidade preocupada com eles e realmente disposta a garantir a preservação de suas estações, e que irá comemorar dignamente o seu centenário neste ano.
O jornal fala que há uma mobilização silenciosa de moradores de Serra Alta, que estariam fazendo negociações para que finalmente as coisas saiam do papel. Acho digno, e acho inclusive que essa mobilização não deve ser silenciosa. Infelizmente as coisas só acontecem a custo de muito barulho – e normalmente após muito protesto nas redes sociais.
A mim não me interessam mais as dificuldades. O vexame já está aí à nossa porta: um centenário sem motivos para comemorar.